FESTA DAS VELAS VOTIVAS EM BAGÉ -VIII

A GUERRA DO PARAGUAI E
A FESTA DAS VELAS VOTIVAS EM BAGÉ
Cláudio Antunes Boucinha1
Introdução
Uma das fontes apontadas como origem da tradição das velas votivas em Bagé, na procissão em homenagem a Nossa Senhora Auxiliadora que é feita desde 24 de maio de 1943, estaria a Guerra do Paraguai. Haveria, de alguma maneira, uma tradição vinculada à Guerra do Paraguai, em Bagé, no dia 24 de maio, com velas votivas? Qual a base, o fundamento dessa influência da Guerra do Paraguai na festa das velas votivas em Bagé, em 24 de maio de 1943?
É fato que a festa de Nossa Senhora Auxiliadora era também um ato cívico. Em plena 2ª Guerra Mundial, o povo de Bagé rezava por paz mundial. E incluída nesse ato cívico estava a lembrança da Batalha de Tuiuti, na Guerra do Paraguai, em 24 de maio de 1866 ( CORREIO DO SUL, 23 de maio de 1943).
A inclusão da Batalha de Tuiuti nas homenagens prestadas pelo povo de Bagé para Nossa Senhora Auxiliadora era casual ou haveriam precedentes, em anos anteriores?
De fato, em 24 de maio de 1942, era recordada pela “guarnição federal”, com programação que incluía formatura, hasteamento, canto, palestra, “volteio (demonstração)”, prova hípica, com juri de honra e juri técnico. Não havia nenhuma referência à procissão ou vela votiva na programação elaborada por 12º RCI (CORREIO DO SUL, Bagé, 24 de maio de 1942).
Em 24 de maio de 1941, o Gen. Osório era relembrado como um dos heróis da Batalha do Tuiuti (CORREIO DO SUL, Bagé, 24 de maio de 1941).
Em 24 de maio de 1939, a Batalha de Tuiuti era lembrada na figura do General Osório, artigo assinado por Gadret Filho (CORREIO DO SUL, Bagé, 24 de maio de 1939).
Ou seja, poder-se-ia afirmar que havia tradição na cidade de homenagear o Gen. Osório, especialmente na data da Batalha de Tuiuti, em 24 de maio que, no entanto, não incluíam velas votivas.
Quando começou essas homenagens ao Gen. Osório, em 24 de maio, na cidade de Bagé?
Cabe lembrar que Osório manteve grandes laços com a vida da cidade de Bagé: em 1835, em Bagé, no dia 15 de novembro, casa-se com Francisca Fagundes de Oliveira, natural de Caçapava do Sul, e filha de Zeferino Antônio Fagundes de Oliveira e Vicência Constança de Sousa.2
Por outro lado, em 22 de fevereiro de 1943, em todo o Brasil, foi comemorado o Centenário de nascimento do Visconde de Taunay, especialmente com cerimônias votivas na cidade do Rio de Janeiro:
    • Em todo o Brasil provocou a passagem do primeiro centenário natalício do autor de Retirada da Laguna, a ocorrência de consideráveis demonstrações de apreço à memória do soldado escritor. Partiram as primeiras do Exército Nacional. Por intermédio de generosa ordem do dia, determinou o então Ministro da Guerra Eurico Gaspar Dutra, que todas as guarnições do país festivamente celebrassem a efeméride de 22 de fevereiro de 1943 em altamente significativas cerimônias. (…) Magníficas cerimônias votivasrealizaram-se no Rio de Janeiro, por parte do Exército, do Instituto Histórico Brasileiro, da Irmandade de Santa Cruz dos Militares, de numerosas e prestigiosas associações militares, literárias e cívicas. E simultaneamente assim procederam o Instituto Histórico de São Paulo e seus congêneres de diversos estados, sobretudo no Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, promovendo sessões especiais as mais honrosas” (pp. 7-8).3
Talvez o centenário de nascimento do Visconde de Taunay, em 1943, com cerimônias votivas, no Rio de Janeiro, possa ter levado algumas pessoas a imaginar que havia uma tradição de velas votivas nas homenagens ao General Osório, na cidade de Bagé.
Conclusão
De fato, o que se observou foi uma coincidência entre as homenagens prestadas para o General Osório, considerando a Batalha de Tuiuti, e a festa da padroeira de Bagé que coincidiam na data de 24 de maio. No entanto, a festa das velas votivas foi criada em 1943, como inovação a uma procissão que já existia na cidade.
1Diretor do Arquivo Público Municipal de Bagé. Mestre em História do Brasil.
3TAUNAY, Visconde de (Alfredo D'Escragnolle Taunay). A Retirada da Laguna: Episódios da Guerra do Paraguai. (Tradução da quinta edição francesa por Affonso de E. Taunay). 16ª edição. São Paulo: Melhoramentos, 1963.

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