“QUAIS OUTRAS FILHAS DE JERICÓ”: PROSTITUIÇÃO E ESCRAVIZAÇÃO NA FRONTEIRA DA BANDA ORIENTAL DO URUGUAI
“
(…) Domingas Garcelina, interrogada por suspeita de reduzir pessoa
livre à escravidão, era viúva, de 24 anos de idade, natural da
Província de São Pedro, moradora de Bagé, filha de pais
naturais do Estado Oriental e vivia de seu trabalho.
Domingas, nesse seu primeiro interrogatório, sustentou que comprara
a crioula Rita na Colônia do Sacramento “a um ano mais ou menos
pela quantia de cem patacões”. Inquirida sobre o documento de
compra, respondeu que não o possuía, pois o havia extraviado, não
sabendo como. Afirmou ainda “que a senhora que a vendeu lhe disse
que era sua escrava.” Indagada, afirmou que não ouviu dizer nem
sabia que a escravatura havia sido abolida no país vizinho. (…)
Passando por um novo interrogatório em 24 de maio, a ré afirmou
ser natural de Porto Alegre, residente na vila de Bagé e
provisoriamente moradora em Jaguarão há quatro meses, filha de
Ignácio da Roza e de Isavel Garcez, ambos naturais do Estado
Oriental. Continuou sustentando que tendo ido para o Uruguai com
o Exército brasileiro até a Colônia do Sacramento, ali comprara
uma crioulinha de nome Rita, idade de nove a dez anos, pelo preço de
cem patacões, na certeza e boa fé que fosse escrava e ignorando que
naquele estado houvesse escravos. Chegando aqui a vendeu, e agora,
sabendo que a referida crioula era nascida no dito Estado e era
liberta, hoje está ciente que ela é livre. (…)”.1
1“QUAIS
OUTRAS FILHAS DE JERICÓ”: PROSTITUIÇÃO E ESCRAVIZAÇÃO NA
FRONTEIRA DA BANDA ORIENTAL DO URUGUAI. Dr. Olgário Paulo Vogt
[Professor do Departamento de História e Geografia e do Programa de
Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional da UNISC. Email:
olgario@unisc.br ]; Dr.
Roberto Radünz [Professor do Departamento de História e Geografia
da UNISC e da UCS. Coordenador do Programa da Pós-Graduação em
História da UCS. E:mail: radunz@unisc.br
].
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