Apolônio de Carvalho, em Bagé

"(...) Como é que se formou e como foi a sua inserção na ANL? Como é que a ANL chegou aos quartéis, como essa proposta era recebida e o que representava nesse momento?
Eu saí da Escola Militar no final de 1932, em fins de 1933 eu já era oficial. Eu não era de tendência socialista, não tinha a visão de um regime diferente, mas o período da Escola Militar me ajudou muitíssimo a ter uma idéia contestatória desse período. Eu não tinha a alternativa, não tinha uma visão do socialismo, conhecia vagamente o que se dizia sobre a Rússia socialista da época etc. Mas achava, primeiramente, que era necessário mudar a sociedade brasileira. Ao sair da Escola Militar, eu já levava uma visão muito clara de que essa sociedade era muito injusta e de que era preciso modificá-la. Um colega do Rio Grande do Sul, um capitão do Exército, Rolim, muito amigo, me falou da ANL, o que era essa frente popular, o que era esse movimento democrático nacionalista, voltado naturalmente para profundas modificações econômicas mas também com muitas possibilidades de participação na sociedade, na vida política do país etc. E eu gostei do quadro geral, mas achei que era, ainda, pouco profundo e pouco avançado em relação à visão genérica que eu tinha das pessoas dessa época. Mas fiquei, mais ou menos, “ganho”. Logo depois, as circunstâncias me levaram a participar mais ativamente da criação da ANL. Então, eu participei da organização dessa frente popular, dessa organização de frente única, ampla, dentro da cidade de Bagé e outras cidades próximas". (...) "E o papel do PC? Não existia naquela época. Pelo menos na minha cidade não existia. Eu não conhecia o PC até aquele momento. A ANL era uma frente popular, uma formação de frente única, de frente ampla, com a presença e influência crescente dos comunistas. Mas sem ter sido criada pelos comunistas. Criada pelo movimento do inconformismo, pela luta contra as ameaças do regime de força, pela luta contra as ameaças de uma organização de tipo fascista, que se apoiava, em 1932, no que se chamava Ação Integralista Brasileira. Dentro desse quadro, havia o movimento operário combinando temas e bandeiras econômicos com temas e bandeiras políticos. A ANL surgiu dentro de um momento de preparação da primeira Lei de Segurança Nacional, da luta contra as ameaças de um regime de força, da luta contra o imperialismo. Havia uma corrente muito grande de movimentos, do movimento sindical, do movimento operário, da intelectualidade. O PC integrou-se a esse movimento, influenciou esse movimento. Mas, no Rio Grande do Sul, onde eu atuava, não existia o PC. Não existia em Bagé nem em Pelotas. É possível que existisse clandestinamente, mas não tinha expressão. Os que falavam comigo em nome da ANL não se diziam comunistas: Rolim devia ser comunista, membro do PC, mas não se apresentava como comunista". (...) "Você já era oficial quando foi preso? Era tenente. Já tinha dois anos de tropa. Eu fui preso e fiquei de fim de novembro até metade de março em Bagé, preso nos quartéis. Depois fui transferido para as prisões do Rio. (...) "Ao sair da prisão, você foi expulso do Exército brasileiro? Não, fui expulso quando ainda estava preso em Bagé, em 9 de abril de 1936, sem processo, sem ser ouvido". Fonte: 
  • Edição 06
  • 01 abril 1989
    • Paulo de Tarso Venceslau.Paulo de Tarso Venceslau é jornalista e membro do Conselho de Redação de Teoria e Debate. (Colaborou Daniel Aarão Reis Filho).
 http://www.teoriaedebate.org.br/materias/nacional/memoria-apolonio-de-carvalho .  

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