Domingas Garcelina, viúva, 24 anos, natural da Província de São Pedro, moradora de Bagé, filha de pais naturais do Estado Oriental, que vivia de suas rendas, e que acompanhara um regimento a Colônia do Sacramento a época em que o Exército brasileiro intervira na Banda Oriental - pia batismal na Capela de São Sebastião de Bagé entre os anos de 1845 e 1865 - Bagé/BR – Os Zíngaros (1936) -


Olgario Paulo Vogt (UNISC), Roberto Radünz (UCS/UNISC)

“Quais outras filhas de Jericó”: prostituição e escravização na fronteira da Banda Oriental do Uruguai


"A escravidão como tema de pesquisa tem sido abordado de múltiplas formas. Como réu ou vitima, o negro no seculo XIX foi responsabilizado judicialmente por seus atos na condição de cativo ou alforriado. Uma vez livre, não havia garantias de que essa alforria fosse condição de liberdade plena. Os casos de alforriados que, por circunstancias espúrias ou meandros jurídicos, voltaram aos grilhões da escravidão, estão em parte registrados pela historiografia especializada do tema. Paralelo a esse processo, negros nascidos no Estado Oriental do Uruguai foram trazidos para o sul do Império e reduzidos ilegalmente a condição de escravos. No território vizinho, a escravidão havia sido abolida na década de 1840 e, portanto, o negro nascido nesse território havia sido concebido de ventre livre. O objetivo dessa comunicação e problematizar o caso de negros livres nascidos no território vizinho do Uruguai que foram reduzidos a escravidão. A base empírica e um processo crime de escravização (APERS: Civil e Crime. 1853, N. 2367, M. 71, E. 99) de pessoa livre. O processo aberto em 1853 na vila de Jaguarão trata da crioula de nome Rita, 9 anos, natural da Colonia do Sacramento, Uruguai, filha de Raimunda e Maria, ambos livres e já falecidos. A ré e Domingas Garcelina, viúva, 24 anos, natural da Província de São Pedro, moradora de Bagé, filha de pais naturais do Estado Oriental, que vivia de suas rendas, e que acompanhara um regimento a Colônia do Sacramento a época em que o Exercito brasileiro intervira na Banda Oriental. Em Colonia a ré “contraiu amizade privada, intima e ilícita” com o capitão José Caetano, da Guarda Nacional. Dali o acompanhara para Montevidéu. Ao separarem-se, deu-lhe o capitão “como em premio de suas condescendências, e fragilidades, a crioula Rita. Regressando a Província, enlaçara-se com o cadete Cândido Xavier de Brito. Em Jaguarão, com a participação de seu amasiado, vendeu a menor Rita por 150 patacões a Joaquina Maria Vieira. Esta procurou legalizar a propriedade ao pagar quatorze mil e quatrocentos reis na Coletoria da vila a título de meia sisa. O caso suscitou a abertura de um inquérito pelo subdelegado de Jaguarão. A Justiça Publica pronunciou Domingas como incursa no Artigo 179 do Código Criminal de 1830. Julgada pelo Tribunal do Juri de Jaguarão e defendida por Guilherme Cândido de H. Brito, a ré acabou sendo absolvida e solta. Esse caso ilustra a existência de trafico entre fronteiras, na qual não se enquadra nem o Atlântico nem o interno. No caso do Sul do Brasil, a fronteira com a Estado Oriental foi utilizada tanto para a fuga como para a escravização ilegitima".1


Leandro Rosa de Oliveira (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul)

Padrinhos preferenciais, círculos de compadrio e hierarquias sociais ao sul do Império do Brasil (Bagé/RS, 1845-1865)



"Os trabalhos que buscam compreender as sociedades ibero-americanas dos períodos colonial e imperial tem apontado para a relevância que as relações de compadrio possuíam para aquelas sociedades. A partir dessas relações, observáveis através dos registros paroquiais, é possível se ter uma ideia de como indivíduos de diferentes estratos sociais conectavam-se, seja vertical ou horizontalmente em relação à sua posição social. O presente estudo tem como objetivo analisar o círculo de compadrio dos indivíduos que por mais vezes foram convidados a comparecer à pia batismal na Capela de São Sebastião de Bagé entre os anos de 1845 e 1865. Com isso, pretende-se verificar a variedade social que compôs tais círculos, fazendo com que tais indivíduos figurassem enquanto padrinhos preferenciais naquela localidade durante o período escolhido para análise. Associando essa análise a informações socioeconômicas desses padrinhos preferenciais, pretende-se também visualizar as características sociais desses padrinhos preferenciais, com o intuito de elaborar hipóteses sobre quais elementos eram relevantes para a ascendência social desses indivíduos naquela sociedade, considerando o convite para ser padrinho enquanto um indício dessa ascendência. Dessa maneira, pretendemos discutir acerca das hierarquias sociais presentes na sociedade do período imperial brasileiro".2


Fernanda Oliveira da Silva (UFRGS)

Excelentíssimas senhoras e gentis senhorinhas: Os significados do feminino e a experiência das mulheres a partir dos clubes sociais negros na fronteira Brasil-Uruguai (1918-1960)



"A análise objetiva compreender os significados atribuídos ao feminino a partir dos espaços e funções delegados e/ou exercidos pelas mulheres negras nos clubes sociais. É parte da pesquisa de doutorado sobre o papel das redes transnacionais na sociabilidade negra do pós-abolição nessa região de fronteira. Os clubes em questão foram fundados entre 1918 e 1948 nas cidades de Jaguarão/BR – Clube 24 de Agosto (1918) -, Pelotas/BR - Clube Fica Ahí P’rá Ir Dizendo (1921) -, Melo/UY – Centro Uruguay (1923) – e Bagé/BR – Os Zíngaros (1936) e Clube Palmeira (1948). Estes congregavam pessoas que compartilhavam a experiência da racialização no seu fazer cotidiano, pautada pela exclusão sistemática de negros em determinados espaços sociais. Caracterizaram-se por selecionar elementos que denotavam modernidade e progresso na construção de uma negritude, como forma de romper com os estereótipos atribuídos ao grupo. Proporcionaram espaços em que a ideia de raça foi se refazendo socialmente num processo de autoconsciência mediada pela valorização do ser negro. Porém, essa negritude não era homogênea, e dentre as negociações internas e que cruzavam fronteiras - para além das nacionais - estava o papel destinado à mulher negra e a ação objetiva das mulheres mediada por essas relações internas de poder. A análise se dá através de documentação produzida pelo grupo negro, inclui a imprensa negra que circulou nesses espaços: A Alvorada (Pelotas), Acción e Orientacion (ambos de Melo). Além das atas de diretoria e assembleia dos clubes Fica Ahí P’rá Ir Dizendo, Clube 24 de Agosto e Centro Uruguay. Utilizo como metodologia de análise a interpretação dos estatutos do Centro Uruguay (1932) e Clube 24 de Agosto (1955) para refletir sobre o lugar da mulher a partir dos homens no ideal de negritude, visto que os estatutos foram redigidos por diretorias compostas unicamente por homens; então direciono o olhar para as diretorias femininas dos cinco clubes em questão, para observar as atividades exercidas e os diálogos com a diretoria masculina, e então faço uma imersão nas reportagens escritas por mulheres nos referidos jornais nas décadas de 1930-1950 e atento para a forma como as mulheres figuram na referida imprensa de forma a captar quais os elementos selecionados como signo de feminino e seus significados. Pretendo assim, conferir uma análise que priorize as diferentes experiências dos homens e mulheres negros. Ações e discussões interpretadas como parte das complexidades do processo histórico, que acontece numa zona de fronteira ainda pouca estudada no contexto do pós-abolição e que permite diversificar os olhares sobre as teorizações internas do grupo negro. Sem perder de foco as sociedades nacionais das quais associados e associadas almejavam serem vistos como parte".3
1Simpósio Nacional de História (28. : 2015 : Florianópolis, SC) Lugares dos historiadores : velhos e novos desafios. Florianópolis, SC, 27 a 31 de julho 2015 / organizado por Rodrigo Patto Sá Motta e Tania Regina de Luca . –Florianópolis : ANPUH, 2015. http://snh2015.anpuh.org/arquivo/download?ID_ARQUIVO=57869 ;
2Simpósio Nacional de História (28. : 2015 : Florianópolis, SC) Lugares dos historiadores : velhos e novos desafios. Florianópolis, SC, 27 a 31 de julho 2015 / organizado por Rodrigo Patto Sá Motta e Tania Regina de Luca . –Florianópolis : ANPUH, 2015. http://snh2015.anpuh.org/arquivo/download?ID_ARQUIVO=57869 .
3Simpósio Nacional de História (28. : 2015 : Florianópolis, SC) Lugares dos historiadores : velhos e novos desafios. Florianópolis, SC, 27 a 31 de julho 2015 / organizado por Rodrigo Patto Sá Motta e Tania Regina de Luca . –Florianópolis : ANPUH, 2015. http://snh2015.anpuh.org/arquivo/download?ID_ARQUIVO=57869 .

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