VISCONDE DE RIBEIRO MAGALHÃES

VISCONDE DE RIBEIRO MAGALHÃES:
UMA BIOGRAFIA
Claudio Antunes Boucinha
Diretor do Arquivo Público Municipal de Bagé
Mestre em História do Brasil
Setembro, 2005
FUNDAMENTOS HISTÓRICOS PARA O RESGATE DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO DE SANTA TERESA, ANTIGA CHARQUEADA SITUADA NA PERIFERIA DA CIDADE DE BAGÉ, FUNDADA POR UM IMIGRANTE PORTUGUÊS, ANTÔNIO NUNES RIBEIRO MAGALHÃES, QUE COM 12 ANOS CHEGOU AO BRASIL E TORNOU-SE, MAIS TARDE, VISCONDE DE RIBEIRO MAGALHÃES.

Introdução

Pretende-se, com o presente trabalho, descrever dois aspectos relacionados à história de Bagé e do Rio Grande do Sul:
  1. Importância da charqueada, enquanto manufatura e beneficiamento da carne, para o desenvolvimento da região;
  2. A história de Antônio Nunes Ribeiro Magalhães e da charqueada Santa Teresa.
Desenvolvimento Econômico-Social da Região de Bagé:
Por que é importante a história das charqueadas em Bagé?
As charqueadas foram fundamentais para o desenvolvimento da região: não há como escrever a história do município sem a atividade charqueadora. Foi em torno da charqueada que o município orientou o seu desenvolvimento, ou seja, tudo se desenvolvia em função da atividade charqueadora.
Desde os tempos dos jesuítas, em terras do que seria Bagé, em dois rincões, rincão da Cavalhada e rincão de Santa Tecla (onde estava o Posto que, mais tarde, deu nome ao forte, construído pelos espanhóis), pertencentes à Estância de São Miguel (ou Estância de Santa Tecla, como parte da Estância de São Miguel), que pertencia as Missões, que a criação de gado existente na região preparava o caminho do surgimento do charque, inicialmente produzido nas estâncias locais, mais tarde produzido em grande escala para o mercado interno brasileiro e latino-americano.
Os gados criados nessas paragens eram possivelmente bovinos Hamíticos (Bos hamiticus), com chifres longos, - domesticados no Egito há aproximadamente 4000 anos a.C. -, introduzidos no sul da Espanha, procedentes da África do Norte, e possivelmente transportados (para o que seriam o Uruguai e Rio Grande do Sul) pelos jesuítas, com o propósito de abastecer os povos das Missões. Posteriormente, com a invasão das Missões pelos Bandeirantes paulistas, os bovinos capturados tinham por destino a região de Franca, São Paulo, de onde surgiu a denominação de bovino “Franqueiro”. Era esse o gado utilizado pelas antigas charqueadas de Pelotas que utilizavam trabalho escravo (a escravidão, no Rio Grande do Sul, durou até 1884): Um gado que produzia muita gordura, até pela idade de abate, ideal para a produção de “mantas” de charque. O charque era classificado de acordo com o seu teor de gordura, o que implicava num gado mais velho, de quatro anos e meio a cinco anos de idade, um boi bem desenvolvido, com gordura sólida, pesando setecentos a oitocentos quilos.
Num primeiro momento, era esse o gado, em algumas cercas de pedras, que seria utilizado pelas antigas charqueadas de Pelotas, primeiro centro charqueador do Rio Grande do Sul, que utilizariam trabalho escravo. 1
E, num segundo momento da história da charqueada no Rio Grande do Sul, na segunda metade do século XIX, num segundo centro charqueador, em Bagé, utilizando mão-de-obra livre, também com outro tipo de gado, o gado europeu, já sob a influência do Uruguay de Carlos Reyles e do “Frigorifique” do francês Charles Tellier.
A indústria frigorífica colocaria em cheque o tipo de gado utilizado pela charqueada, exigindo um gado com outro perfil de abate: A regra dos frigoríficos era procurar um gado com a idade de dois e meio a três anos, três anos e meio, de quatrocentos a quinhentos quilos na média.
Gado de raça, já com cercas de arame, que seria muito importado da Europa por criadores de Bagé, especialmente pelo Visconde de Ribeiro Magalhães. Os primeiros leilões de gado, em 1901 e 1902; a inauguração da “Tablada de Bagé”, em 1903; a primeira exposição pecuária, em 1903; a fundação da Associação Rural de Bagé, em 1904; a Associação do Registro Genealógico Sul-Rio-Grandense, fundada em Bagé, em 1906; foram não os inícios, mas estágios de um mesmo processo de produção ligada à criação de gado na região e às charqueadas.
A charqueada era o principal mercado para o criador que queria vender seu gado. A charqueada, isoladamente, gerava o maior número de empregos na região de Bagé. Constituía-se, em torno do estabelecimento da charqueada, uma gama de empregos diretos e indiretos. A arrecadação de impostos para o município, no que concerne à atividade charqueadora, era significativa, para não dizer a maior fonte de arrecadação municipal. Gerou a charqueada também uma série de atividades em outros setores, como no setor financeiro, com a fundação de bancos e sucursais; como no setor dos transportes, com a estrada de ferro (assim como os arroios e rios) que servia como um roteiro geográfico para a localização do espaço das charqueadas, visto que sem a ferrovia não seria possível o desenvolvimento desses estabelecimentos em Bagé e no interior do Rio Grande do Sul. A charqueada foi tão importante em Bagé, que alguns dos estabelecimentos aqui situados estavam relacionados entre as 100 maiores indústrias do Brasil, no início da República Velha. No setor cultural, implicou a economia das charqueadas na fundação de teatros, no centro da cidade, da apresentação das primeiras sessões de cinema em Bagé; no surgimento de escolas para os filhos dos trabalhadores; na assistência social para os empregados de algumas charqueadas; especialmente na charqueada Santa Teresa. Foi através da charqueada que tanto o peão como tanto o fazendeiro inseriu-se dentro de uma realidade que exigia uma nova concepção de empresa, embora artesanal, fundamentado na divisão do trabalho, embora com todas as dificuldades decorrentes de um novo gerenciamento de um estabelecimento bem como da própria produção. Dessa maneira, o fazendeiro comparava-se a um dono de indústria, pois sua charqueada “Moderna” era uma indústria, com máquinas, como o locomóvel.
Enfim, foi a partir da charqueada que os fazendeiros locais, conjuntamente com o comércio da cidade, resolveram transformar suas vidas e transformar a região, indiretamente. Se antes os estancieiros mandavam o gado para Pelotas e Montevidéu; com a fundação das charqueadas em Bagé, escolheram um outro caminho. Desde 1891, quando os fazendeiros locais constituíram, junto com os comerciantes, utilizando mão-de-obra livre, a primeira charqueada em grande escala, a Companhia Industrial Bageense; até 1939-1940, quando foi fundado o primeiro frigorífico na cidade, o Frigorífico SISPAL, a charqueada dominou (também do ponto de vista tecnológico) a economia da região de maneira preponderante, embora em crise desde o início da Primeira Guerra Mundial. Depois da Companhia Industrial Bageense, fundaram-se outras charqueadas, entre as quais a charqueada Santa Teresa.
Antônio Nunes de Ribeiro Magalhães,
Visconde de Ribeiro Magalhães

Comerciante, industrialista e criador;

Há nomes que valem por uma biografia e que ninguém tem o direito de ignorar; tal é o do Visconde de Ribeiro Magalhães que, neste último meio século, está intimamente ligado á história do desenvolvimento econômico destas belas regiões as mais ricas deste Estado destinado ao mais brilhante futuro. Nasceu na freguesia2 de Castelões de Cepeda3, da “cidade” de
Paredes (Portugal) em 5 de Outubro de 1841. Foram pais de Magalhães: Joaquim Nunes e Joaquina Rosa de Magalhães, "modestos, laboriosos e honestos trabalhadores", já falecidos (não era informada a data do falecimento, conforme fonte secundária).Bem cedo Antônio Nunes Ribeiro Magalhães começou a sentir a necessidade de novos e mais amplos horizontes para "dar largas ao seu gênio altamente empreendedor e ativo", sendo o Brasil o país dourado dos seus belos sonhos de criança, para o qual embarcou, contando doze anos de idade, depois de aprender as primeiras letras na escola primária de sua terra. Magalhães “era pobre, bem pobre”.
O Vale do Souza

Figura 2 – Mapa do Distrito do Porto, em Portugal. Fonte:http://www.fisicohomepage.hpg.ig.com.br/dist-porto.htm . Acessado em: 23 de setembro de 2005. Hora: 21:33 h.

Freguesia de "Castelões da Cepeda", do Conselho de Paredes, distrito do Porto, em Portugal. A vila de Paredes só se tornaria cidade em 20 de Junho de 1991. O Conselho deParedes foi criado por Passos Manuel apenas em 6 de Novembro de 1836, como resultado do reordenamento que ocorreu com a entrada da Constituição de 1820. Nesta data o Conselho de Paredes passou a conter algumas das freguesias do extinto conselho de Aguiar de Sousa, englobando um total de 23 freguesias. Em finais do séc. XVIII, já existiam os Paços do Conselho e o pelourinho. Paredes, tinha então o aspecto de uma verdadeira cidade, embora nem sequer tivesse a categoria de vila. Paredes, integra-se numa das regiões mais prósperas e paisagisticamente interessantes de Portugal: o Vale do Sousa. O Conselho de Paredesassenta no antigo conselho de Aguiar de Sousa, que data dos primórdios da Monarquia. O conselho de Aguiar de Sousa surgiu de um pacto de povoamento do Vale do Sousa, no século XII, como o período em que foi criado. Foi por volta do séc. XVIII que o pequeno lugar de Paredes, integrado na freguesia de Castelões de Cepeda, foi ganhando importância. Embora se opine que a sede do conselho foi semprepovoação de Paredes da freguesia de Castelões de Cepeda, não se crê que assim tenha sido, ab initio; pelo menos desde o século XVI, que a cabeça do conselho de Aguiar de Sousa é Paredes. Paredes, passou a vila em 7 de Fevereiro de 18444, data do Alvará Régio de D. Maria II que elevava Paredes a essa categoria, com os correspondentes direitos e deveres por "a mesma povoação possuir os necessários elementos para sustentar com dignidade a categoria de vila". Na gastronomia tradicional, destacava-se o cabrito à moda deParedes com arroz de forno e para sobremesa, a sopa seca. O nome de Castelões de Cepedadeve-se à importância que teve na região o antigo couto desse nome, que foi, inclusivamente, cabeça do extinto conselho de Aguiar de Sousa. Castelões de Cepeda é o centro administrativo do conselho de Paredes desde 1836. O nome de Santa Teresa de Ávila era, coincidentemente, Teresa de Cepeda y Ahumada (1515-1582).
A Chegada ao Brasil
Em 1853, aportou neste estado e conseguiu um emprego numa casa de comércio de Rio Grande.Viajou sozinho, em 1853, no Veleiro Íris, um navio à vela, uma pequena escuna, com destino ao porto de Rio Grande. Conseguiu modesto emprego como caixeiro, em um dos armazéns do Mercado Público de Rio Grande. A Freguesia de Santo Antônio de Lavras foi criada pela Lei nº 82, de 13 de novembro de 1847 e tornar-se-ia Vila pela Lei nº 1364, de 9 de maio de 1882. Possivelmente, foi da então Freguesia de Lavras que partiu, de “Três Vendas”, um antigo comerciante, “Delabary” que, precisando de um caixeiro para o seu estabelecimento, foi para Rio Grande. Já mais adulto, Magalhães foi contratado por Delabary. Mais tarde, Magalhães tornou-se sócio de Delabary. Após, Magalhães estabeleceu-se com a firma “Alegre & Magalhães”, dissolvida em 1872, ano em que Magalhães mudou-se para o “Piraí”, onde constituiu a firma “Magalhães & Souza”, com Francisco Loureiro de Souza, operando no ramo de “secos e molhados”, firma com existência efêmera, poucos anos. Francisco Loureiro de Souza, em 1872, era empregado de comércio; em 1906, Souza seria “um dos ornamentos do jornalismo portuense”, em Portugal. Existem informações de que Magalhães foi radicado em Pelotas, onde se dedicou ao comércio, onde também foi charqueador. Teria chegado à Bagé depois de 2 de dezembro de 1884, época da inauguração da ferrovia. No entanto, faltam evidências para tais informações. A carta de matrícula da Junta Comercial de Porto Alegre, obtida por Magalhães em 1885, para a cidade de Bagé, já com uma casa comercial consolidada, destoa de um suposto deslocamento de Magalhães, de Pelotas para Bagé, somente depois de 1884. Graças ao seu trabalho esforçado e às suas qualidades de ordem e de economia, conseguiu reunir um pequeno capital com o qual, no fim de poucos anos, se estabeleceu por conta própria em Pirahy, com negócios de secos e molhados. Esse negócio prosperou de tal forma que, poucos anos depois, liquidou a casa de Pirahy e veio estabelecer-se em Bagé, com o mesmo negócio, agregando uma barraca de produtos da pecuária. Magalhães explorou diversas atividades, desde o ramo de açougues até proprietário de barraca de frutos do país. Em seguida, retomou a atividade de comerciante em secos e molhados, por atacado e por varejo. O seu capital e o seu crédito aumentaram progressivamente, de tal forma que, em 1881, já podia operar em grande escala, especulando felizmente na compra e venda de gado. Em 24 de novembro de 1885, Magalhães obteve carta de comerciante matriculado na Junta Comercial de Porto Alegre. Em 1893, deu sociedade ao seu filho Antonio na sua casa de comércio, constituindo a firma Magalhães & Filho. A firma “Magalhães & Filho” funcionou na esquina da rua 7 de setembro com a 3 de Fevereiro, por largos decênios. Situada na rua 07 de Setembro, nº 130 e 132, era classificada como ramo de “agentes de seguros”, “loja de fazendas”, “frutos do país”, “secos e molhados”, “loja de ferragens”, “porcelanas”, “miudezas”, “comprava ouro e frutos do país”. Em (1894/1895) fundou a charqueada de “Cotovelo” onde, no curso da primeira safra, foram sacrificadas 8.670 reses. Sendo muito restrita a capacidade de produção deste estabelecimento, liquidou-o em 1897 para fundar, com elementos mais amplos, o “Saladero Sta Thereza” que, durante a primeira safra, abateu 14.000 animais. Desde então, a progressão foi constantemente ascendente, até alcançar a formidável cifra de 45.000 reses. Magalhães comprou de Alexandre José Colares uma fração de campo na parte sudoeste da cidade, à margem da estrada de ferro, onde construiu a charqueada Santa Teresa, nome em homenagem à Teresa Pimentel Magalhães. Em 1898, a charqueada inaugurou um moderno sistema de iluminação com gás acetileno. Em 1901, a charqueada possuía uma caldeira a vapor, três digeridores com capacidade para 80 reses, cada um; e que alimentava o refinador de graxa, guincho, bomba; possuía vasta cancha para abates e salga; linha férrea para transporte de resíduos; cano de esgoto; instalação de luz elétrica, funcionando 80 lâmpadas e cujo motor tinha a força de 10 “cavalos”, dínamo de corrente contínua, força eletromotriz de 230 wolts e 1350 revoluções por minuto; sobressalente, uma instalação de gás acetileno, podendo dar luz a 90 bicos de dezesseis “velas”; serraria à vapor, cujo motor de 8 “cavalos” de força, colocava em movimento 8 máquinas diversas ( de aplainar, de serrar, de furar, de fazer molduras, de tornear, e engenho para serrar madeiras trabalhando 10 horas de cada vez); oficina de ferraria; tanoaria; moradias para os trabalhadores, compondo-se de 15 lances para famílias e 15 lances para solteiros, acomodando 6 pessoas cada um; restaurante; armazém e padaria; abatia 480 reses/dia; nos meses de safra, empregava 180 pessoas, cujos salários eram de R$ 16.000$000 réis mensais; um júri estadual havia concedido “medalha de ouro” aos produtos elaborados pela charqueada. Em 1908, Existiam, na charqueada, casas para 1000 pessoas, sendo efetiva a população de 894 pessoas, de ambos os sexos. Toda a charqueada era iluminada por luz elétrica, funcionando uma usina independente da cidade que distava 7 km de distância. Tinha uma sapataria, duas barbearias e uma alfaiataria. Existia uma capela elegante dedicada à Santa Teresa. Em 1908, para diversão, o teatro Santo Antônio, decorado interiormente e exteriormente, com vinte camarotes e lugar para centro e cinqüenta pessoas nas galerias e outras tantas na platéia; o grupo dramático “Santa Teresa” era composto de empregados da charqueada. O teatro era para exibições cinematográficas (cinematógrafo), peças e óperas. Em 1915, funcionava no teatro uma banda musical, a “Lira Santa Teresa”. No teatro havia 06 camarins, 17 camarotes, 50 cadeiras, gerais, sala de bilhar, bilheteria, copa. Havia um piano e pinturas. No teto, figuravam os “medalhões” de Carlos Gomes, Donizetti, Bellini, Auber, Ariza, Gounod, Puccini, Franchetti, A .Bosc, J. Verdi, Machetti, Feiullet, Barrou e Chopin. O pano de boca do teatro era uma “linda alegoria ao trabalho”. Em 1908, a Sociedade Beneficente “Santa Teresa” tinha edifício próprio, modesto, asseado, confortável, que dispunha de uma sala para operações e outra sala, espaçosa, para enfermaria. O médico era o Dr. Júlio Mascarenhas de Souza. Um colégio, externato, misto, com 60 alunos, cujo professor era remunerado pela Intendência Municipal. Em 1911, havia uma linha de bonde que ligava as duas charqueadas, Santa Teresa e Industrial; uma fábrica de café, uma fábrica de línguas em conserva. Em 1914, Magalhães possuía 2.200 vacas leiteiras, em Santa Teresa e na estância Rio Negro. A partir dessa criação, construiu uma indústria de laticínios, produzindo queijos, manteiga, leite pasteurizado, leite medicinal; cujo administrador era Castro Garavia. Em 1915, em fonte de primeira mão, havia uma descrição da Capela de “Santa Teresa”: altar-mor, trazido da Bahia, por um amigo da família, com a santa; haviam imagens de Santo Antônio, São Joaquim; São Sebastião, São Geraldo, “Coração de Jesus”, Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora de Lourdes, São José; o padre Vicente oficiava os atos religiosos. No coro da capela havia um órgão. Todos os paramentos da capela, altar, a riquíssima custódia, cravejada de rubis e esmeraldas, vieram de Paris. Este resultado ainda não pareceu, suficiente a este homem de vistas amplas. Em 1904, tomou por arrendamento a “Charqueada Industrial”, que acabou por comprar, em 1907, pela soma de Rs 200:000$000 e os dois estabelecimentos chegaram a charquear, numa safra, a colossal quantidade de 94.600 animais. Entre as duas charqueadas, foi construída uma avenida arborizada, a Boulevard 16 de Outubro; além de uma linha de bondes. Essa situação se manteve até o ano de 1912, em que vendeu os dois estabelecimentos à “Anglo-Brazilian Meat Company Limited”, sociedade anônima organizada por capitalistas ingleses; ele próprio subscreveu a 47.500, em ações de 1 libra. – O capital desta Cia, que n’outro lugar estudamos, é de 200.000 libras e, desde a sua fundação até esta data, ela tem funcionado sob a direção do Visconde. Acabas-se de estudar sucintamente a ação do Visconde de Ribeiro Magalhães como comerciante e como industrialista; cumpre-nos agora estudar o criador preclaro, cujo exemplo foi de tão fecundos resultados para o desenvolvimento da indústria pastoril nesta regiões e para o melhoramento científico das raças. Foi ele o primeiro que introduziu neste Município um lote de animais de pura raça, importados da Inglaterra: era 1899 e o lote compreendia 7 touros e 1 vaca Durham, cujo valor global era de Rs 40:000$000. Em 1913, introduziu 20 reprodutores puros, além de 68 lanígeros de um valor global de Rs 70:000$000. Estes animais foram comprados pessoalmente pelo Visconde, no curso de uma das suas viagens na Europa. Em 1904, Magalhães fez sua primeira viagem à Portugal. Foi acompanhado por sua esposa, Teresa Pimentel Magalhães, e de cinco “filhos” (quatro filhas e uma criada); visitou sua irmã, Ana Nunes de Magalhães, viúva, e seus filhos. Permanecendo dois meses na Vila de Paredes e partiu para visitar outros lugares de Portugal, Espanha, França e Inglaterra, regressando à Vila de Paredes em dezembro de 1904 e para Bagé em Janeiro de 1905. Os filhos de Magalhães eram: Antônio; Joaquim; Arthur; José. As filhas: Teresa; Herotildes; Adelaide; Alayde; Haydée. Em 1913, Magalhães empreendeu a sua segunda e última viagem à Europa. Com familiares, foi tomar o “Arlanza”, o maior transatlântico das linhas para a América do Sul, que pertencia à frota da Mala Real Inglesa, que pela primeira vez atracava no porto de Buenos Aires. Recomendado por K. Wilson (sócio na empresa The Anglo Brazilian Meat Company Limited) ocupou camarote de luxo. No porto de Santos, foi recepcionado por Altino Arantes, presidente do Estado de São Paulo. No porto de Southampton, foi recebido por uma comissão especial. Na estação ferroviária de Londres, foi saudado por K. Wilson. Em Londres, hospedou-se no Grande Hotel, em Trafalgar Square. Convidado de honra para a Exposição de Gado em Bristol. Na cabanha do Rei Jorge V, adquiriu um lote de animais puro sangue. Na Escócia, de um “Lord”, comprou gado Durham. Em Lisboa, 13 de setembro de 1913, o jornal CORREIO DA EUROPA publicou reportagem sobre Magalhães. Além destes lotes importados do velho continente, comprou excelentes produtos da afamada Cabaña de Carlos Reyles, na República Oriental e outros em diversas exposições organizadas neste Estado. O Visconde de Ribeiro Magalhães era um dos mais fortes criadores deste Estado. Os seus rebanhos se achavam repartidos nas quatro estâncias de sua propriedade, que se afigura interessante estudar nas suas linhas essenciais.
Estância Cinco Salsos
Situada no 6º Distrito do Município de Bagé, a sua superfície é de 8.000 hectares. Em 1916, havia 07 distritos, em Bagé. Os campos, completamente cercados, são de primeira qualidade. São divididos em 12 potreiros onde pastam 4.900 vacas, entre os quais se nota magnífico plantel de 300 Hereford de pura raça; os 4600 restantes são novilhos de cria, dos quais 1500 são crioulos e o resto mestiço de Hereford ou Durham. A marcação animal é de 200 cavalos e 200 muares de cria. O preço dos animais de invernada é aproximadamente de Rs 180$000 por cabeça e o seu peso médio de 500 kg.; são vendidos aos frigoríficos de Montevidéu. Esta propriedade foi adquirida em 1900 pelo Visconde de R. Magalhães e o seu valor oficial é de 10 contos por quadra.
Estância Rio Negro.
Situada no 2º Distrito do Município de Bagé e de uma superfície de 8000 hectares, esta propriedade foi formada por partes adquiridas em diferentes épocas, desde 1900. Os pastos são de primeira qualidade, trevol e flechilha. O número dos vacuns é de 6000, sendo metade de cria e metade de invernada, puros produtos das raças Devon, Hereford, Suíça e Flamenca. Os produtos vendidos em 1914 à “Anglo BrazilianMeat Cº Ldº”, ofereceriam um peso médio de 400 kg., e obtiveram um preço de Rs 110$00 por cabeça. A marcação em 1915 foi de 860 terneiros. Existem nesta estância 3000 merinos e 240 cavalares. O valor dos terrenos é oficialmente o mesmo que da estância Cinco Salsos. Existe um excelente banheiro de cimento armado, galpões para os animais de trato, bretes e plantações de forragens.
Estância Carpintaria.
Situada, de ambos os lados da fronteira, no 6º Distrito do Município de Bagé e no departamento de Cerro Largo (Uruguay), tem uma superfície de 16000 hectares, sendo 7.912 em território oriental. Os campos, cujos pastos são de primeira qualidade, se acham divididos em 16 potreiros onde vivem 12.000 vacuns, mestiços Durham e Hereford, sendo 9.000 de cria, de um valor médio de R$ 100$000 por cabeça e 3.070 de invernada, das mesmas raças, pesando mais ou menos 450 kg e valendo R$ 150$000 por cabeça. A marcação anual é de 4000 terneiros. O número de lanígeros é de 12.000, merinos e mestiços, o dos cavalos de 500 e o dos muares de 2.000. O valor dos campos é oficialmente o mesmo que o das propriedades anteriormente descritas. Existem na estância 10 postos para os 16 peões, galpões, bretes para a marcação e castração e um grande banheiro carrapaticida para vacuns e lanígero. Há na propriedade madeiras de lei e as colheitas de forragens são suficientes para o consumo.
Vila Santa Thereza.
Situada no 1º Distrito deste Município, esta propriedade do Visconde de Ribeiro Magalhães tem uma superfície de 600 hectares. E’ abundantemente provida de aguadas artificiais, completamente cercada e os seus pastos são de primeira qualidade; o valor oficial dos terrenos é de 12 contos por quadra. O número dos vacuns é de 560 , de primeiríssima
qualidade, sendo 200 Hereford, 310 Durham e 50 Devon, totalmente puros; raramente temos visto espécies tão interessantes como estes e com verdadeiro gosto publicamos várias vistas desses plantéis, assim como as fotografias de um soberbo touro Devon, de 5 anos, proveniente da Cabanha do Rei Jorge V, e de um touro Hereford, de três e meio anos, proveniente da Cabanha de W.G. Britten. Cinco touros Durham, exemplares únicos, têm sido importados da Cabanha Hipwell (Inglaterra). Existem dois banheiros, um para vacuns e outro para lanígeros, e abundantes plantações de forragens. A chácara de Santa Teresa atraente residência de verão do Visconde e da sua Família, está incluída nos limites desta propriedade. E’ uma das mais belas vivendas que tivemos ensejo de visitar neste Estado, com os seus imensos jardins caprichosamente plantados, as suas imensas parreiras que lembram as amenas paisagens do Minho e do Douro e a sua opulenta casa de moradia, ampla e confortável. As rápidas notas que antecedem, sobre as propriedades rurais do Visconde de R. Magalhães, dão na sua concisão uma idéia exata da sua importância como criador. Resumindo os algarismos dados, podemos avaliar o número de vacuns em 25.000, o dos lanígeros em 23.000, o dos cavalares e muares em 1.350 e o número de animais marcados anualmente em mais de 5.000. Além dos 32.600 hectares de campos onde o Visconde explora a criação em grande escala, possui, nesta cidade, mais de 30 prédios, situados nos lugares os mais favoráveis; é o mais forte proprietário deste Município e o 2º contribuinte do Estado, para o imposto territorial. Possui também vários prédios na cidade do Rio Grande e um belo chalé, na praia do Cassino, onde acostuma descansar durante o verão, quando os seus complexos negócios lhe deixam vagar. É igualmente proprietário em São Paulo e em Portugal. Necessariamente, a gestão de tão importantes interesses exigiu a colaboração de homens competentes e dedicados. Desde 1893, o filho maior do Visconde, Sr. Antônio Magalhães, é sócio da firma Magalhães & Filho. Ativo e culto, dotado de uma atraente afabilidade que valeu grandes simpatias e inúmeros amigos, Antônio Magalhães tem viajado pelo Brasil e pelas Repúblicas Platinas e casou nesta cidade onde possui propriedades. A importante casa que dirige, além do armazém, de secos e molhados, por atacado, se ocupa de comissões e consignações e de transações bancárias em geral. O movimento da casa é dos mais importantes. Joaquim Magalhães, segundo filho do Visconde, é abastado proprietário; é administrador das importantes charqueadas “Sta Thereza” e Industrial. O outro filho, José Magalhães, se ocupa mais especialmente da administração das estâncias “Carpintaria” e “Cinco Salsos”. O Sr. Rodolfo Moglia, apoderado do Visconde de Ribeiro Magalhães, nasceu, em 1865, em Bagé, onde fez os seus estudos. Era ainda muito novo, em 1876, quando debutou no comércio, como empregado da casa José Bina. Em 1889, entrou na casa de comércio do Visconde que, reconhecendo as suas altas qualidades, em 1900 fez dele o seu gerente. Esta imensa fortuna, que aumenta anualmente o rendimento de inúmeros e excelentes negócios e que representa o resultado de longos anos de trabalho ininterrupto, poderia ter apagado os sentimentos altruístas na alma deste homem; pensar assim seria mal conhecer o Visconde e pode-se altamente afirmar que ele é, antes de tudo, a perfeita encarnação da bondade. Não há instituição de beneficência, não há iniciativa caritativa, ás quais não tenha dado seu completo e desinteressado apoio. É natural que a alta situação social ocupada pelo Visconde de Ribeiro Magalhães tenha feito solicitar os seus serviços pelo Governo Português, para defesa dos interesses da colônia aqui estabelecida. Em 1888, foi nomeado vice-cônsul de Portugal, cargo que ocupou durante longos anos. Em 17 de setembro de 1888, assumia como agente consular de Portugal, Vice-cônsul de Portugal, por proposta do Cônsul-geral no extremo do Brasil, Antônio de Castro Feijó. Ocupando Magalhães o cargo até sua morte, em 11 de janeiro de 1926. Industrial e fazendeiro, Magalhães teve destacado papel na condução dos negócios da colônia portuguesa em Bagé, da qual grande parte era seus empregados. Emitiu dezenas e centenas de cartas de chamada para imigrantes portugueses, para que viessem trabalhar nas suas charqueadas, no seu comércio, nas suas fazendas e quintas. A sua dedicação e os seus atos de filantropia lhe valeram , em 1906, ser agraciado pelo Governo do seu país com o título de visconde e, mais tarde, com a comenda da Agraciada Concepção, homenagem prestada, a pedido da virtuosa Rainha D.Amélia, ao filantropo e ao homem de bem. Em 29 de agosto de 1906, registrado no Arquivo da Torre do Tombo, em 01 de setembro de 1906, foi concedido o título de Visconde de Ribeiro Magalhães, cuja carta foi dada e assinada por Dom Carlos, Rei de Portugal, no Paço das Necessidades, em Lisboa. Os motivos do título: a) ser Vice-cônsul em Bagé; b) ser proprietário; c) ser comerciante.
Figura 3: D. Carlos I, Rei de Portugal.http://sergiosakall.com.br/fotografias/d_carlos_i2.jpg.
O Rei Dom Carlo I, Rei da quarta dinastia e o 13° rei de Portugal, filho primogênito do rei D. Luís I e da rainha D. Maria Pia, nasceu em Lisboa em 28/09/1863. Foi batizado com o nome de Carlos Fernando Luís Maria Vítor Miguel Rafael Gabriel Gonzaga Xavier Francisco de Assis José Simão de Bragança Sabóia Bourbon Saxe-Coburgo Gota. Em 1886, casa-se com Maria Amélia de Orleães, princesa da França. Em 1888, publica A Defesa do Porto de Lisboa e a Nossa Marinha de Guerra. Quando subiu ao trono em 1889 (por morte do pai, a 19 de Outubro), o país atravessava uma grave crise econômica. Para complicar a situação, em janeiro de 1890 os portugueses sofreram um vexame: O "Ultimato Inglês", no qual a Inglaterra exigia que o governo português mandasse retirar os exércitos que se encontravam entre as colônias de Angola e Moçambique, caso contrário, declararia guerra ao país. O governo cedeu. Os portugueses sentiram-se humilhados e atribuíram as culpas à incapacidade política do rei. Os republicanos aproveitaram esta oportunidade para reforçar a idéia de que a monarquia devia ser derrubada. Houve por todo o país muitas manifestações contra o Ultimato e os jornais encheram-se de artigos violentos contra a Inglaterra, contra o rei e contra a monarquia. Foi nessa época que apareceu um hino militar "A Portuguesa", hoje, hino nacional. Em 1901, ele participa dos funerais da rainha Vitória da Inglaterra. Esta história termina em Lisboa, no dia 01/02/1908, onde em um atentado contra a monarquia Dom Carlos I tomba assassinado, juntamente com o seu sucessor, o infante Dom Luís, restando como descendente seu segundo filho que seria o último rei de Portugal: Dom Manuel II. Dom Carlos foi um grande Rei, reformador, poeta, pintor, desenhista, músico, cientista, Ictiologista5. Teve de
ser morto pelos anarquistas mesmo, porque de outra forma nunca se faria à República tão cedo, pois ele era muito amado pelo povo.
Comendador da Real Ordem Militar de Nossa Senhora
Da Conceição da Vila Viçosa
Em 21 de maio de 1908 por proposta do Ministro e Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros, foi concedido a Magalhães o grau de Comendador da Real Ordem Militar de Nossa Senhora da Conceição da Vila Viçosa. Processo que se estendeu até 11 de janeiro de 1909 e 25 de janeiro de 1909.
Figura 4: D. Manuel II, Rei de Portugal.http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/5/5e/35-_Rei_D._Manuel_II_-_O_Patriota.jpg/175px-35-_Rei_D._Manuel_II_-_O_Patriota.jpg . Acessado em: 29 de agosto de 2006. Hora: 01:33 h.
Figura 5: D. Manuel II.http://www.arqnet.pt/imagens/phmanuel2.jpg. Acessado em: 29 de agosto de 2006. Hora: 01:38 h.
D. Manuel II (19 de Março de 1889 - 2 de Julhode 1932), de seu nome completo Manuel Maria Filipe Carlos Amélio Luís Miguel Rafael Gonzaga Xavier Francisco de Assis Eugénio de Bragança, foi o trigésimo-quinto eúltimo Rei de Portugal. Manuel sucedeu ao seu pai, o rei Carlos I de Portugal, depois do assassinato deste e de Luís Filipe, Duque de Bragança a 1 de Fevereiro de 1908. Antes da sua ascensão ao trono, Manuel foi duque de Beja.Passou à história com o cognome de O Patriota(pela preocupação que os assuntos pátrios sempre lhe causaram), sendo também chamado de O Desventurado (em virtude da Revolução que lhe retirou a coroa), O Estudioso (devido ao seu amor pelos livros antigos e pela literatura portuguesa); os monárquicos de hoje, chamam-lhe O Rei-Saudade (pela saudade que lhes deixou, após a abolição da monarquia). Manuel II procurou salvar a situação política demitindo o ditador João Franco e convocando eleições gerais. O resultado foi uma vitória esmagadora dos partidos republicano e socialista. A 4 de Outubrode 1910, começou uma revolução e no dia seguinte, 5 de Outubro deu-se a Implantação da República em Portugal. Acompanhado pela mãe, a Rainha Amélia de Orleães, Manuel II abandonou o país e seguiu para o exílio no Reino Unido. Em 1913 Manuel casou com Augusta Vitória, princesa de Hohenzollern-Sigmaringen(1890-1966), mas não teve descendência. Manuel dedicou-se então ao estudo e escreveu um tratado sobre literatura medieval e renascentistaem Portugal. Continuou a seguir de perto a política portuguesa, gozando de alguma influência junto de alguns círculos políticos. Admirador do espírito britânico, foi ele um dos que defendeu a entrada de Portugal na Primeira Guerra Mundial. Depois da sua morte em 1932, a chefia da casa real portuguesa passou para Miguel de Bragança, seu primo, filho do rei D. Miguel I. Há, porém, quem reivindique o trono para uma pretensa meia-irmã de D. Manuel, Dona Maria Pia de Saxónia Coburgo Bragança, que teria sido baptizada por vontade de seu pai, o Rei D. Carlos numa paróquia de Acalà de Henares, em Madrid, atribuindo à sua filha todas as honras, privilégios e direitos dos Infantes de Portugal.
Falecimento do Visconde de Ribeiro Magalhães
Antônio Nunes Ribeiro Magalhães, Visconde de Ribeiro Magalhães, passou pela transição em 11 de janeiro de 1926.

O Trabalho na Charqueada Santa Teresa

O sistema de produção de charque adotado na charqueada Santa Teresa era o “sistema platino”:
  1. Carneia-se a rês (retira-se o couro e charqueia-se o animal).
  2. A rês é dividida em oito partes: duas “mantas”; dois “coxões” (que representam volta “gorda” de uma parte do “quarto”, pegando a “picanha”); duas “paletas”; dois “chicos” (outra parte do “quarto” que a completa).
  3. Deixam-se, então, todas as oito partes da rês esfriar.
  4. Depois, toda a carne vai ter a um tanque de salmoura, cuja graduação não será inferior a 22 graus Baumé, aí ficando uma hora, no mínimo.
  5. Quando retirada do tanque, é salgada (faz-se uma camada de carne e outra de sal para se constituir a pilha).
  6. Após doze horas nas pilhas, é feita a ressalga (processo igual ao da primeira salga).
  7. No dia seguinte, faz-se a pilha-volta, isto é, muda-se a posição da salga.
  8. Ficará aí até que se queira secar.
  9. Quando a carne é levada para os varais, é exposta ao sol para ir secando. (OSÓRIO, 1933)
Charqueada6 Santa Teresa,
Bagé, em Maio de 1940.
Por Harnisch
Nas Minas de Carne
Ó homem, que tudo aniquilas e que tudo destróis,
Esta é a tua obra verdadeira e eterna:
Sangue, sangue, sangue - em toda parte sangue.
Gotejam os rubros filetes
Nestas galerias de carnes
Minas de carnes!
Carne! Carne! Por toda a parte: carne! ...
No vapor dos corpos dissecados
Correm as zorras cheias de cadáveres
Do lugar da matança para o da dissecação.
Dentro do tórax como prisioneiros,
Estão acocorados os negros carniceiros
Por detrás das costelas que semelham grades.
Seus corpos estão vermelhos como os de indígenas
Que se pintassem de cores pra uma empresa guerreira.
Das trevas das tormentas fumegantes
Eles arrastam bandeiras de carne
Que desfraldam ao vento!
Que empilham em montes altos como casas!
Adiante,
Na cerca de arame farpado
Balouçam trapos nus, exalando vapores.
Sob a ardência do sol.
Corações! Corações! - agora trapos sujos!
Não palpitáveis ainda ontem, no conforto da vida?
Não palpitáveis ainda há pouco, na intuição da morte,
Corações?
Andrajos sujos! ...
Dum lado do pavilhão da charqueada estende-se ampla superfície, onde se junta mangueira após outra. As paredes têm dois, até três metros, de altura, feitas de grossos moirões e, do lado de fora de cada uma, a um metro e pouco do chão, há uma espécie de corredor estreito como servindo para artilheiros tomar aí seus postos. É o lugar da espera. Reúnem-se aí as tropas que se encaminham para o sacrifício. Todas as mangueiras estão ligadas entre si por meio de corredores pequenos. Grandes quadrados de chapas reforçadas sobem e descem, regulados por contrapesos, cujo fim é abrir e fechar a passagem dum cercado ao outro. De corredor em corredor, passa-se duma mangueira a outra até chegar-se a mais próxima da charqueada. As primeiras são verdadeiros mangueirões, as últimas já vão ficando reduzidas de tamanho na medida em que se aproximam do ponto principal da matança, tendo capacidade para dez a vinte reses, cada uma.

Preparação da Carne Seca

Matança dos Bois
Á Tarde, antes da Matança,
Na Estação
A tarde vai adiantada, tarde que precede a noite da matança. “Entrára o verão; abrira-se a safra; e o sol adusto de janeiro a xarqueada soturna, pouco antes fechada e erma, borborinhava na rubra faina das matanças”. (MAYA, 1911). Postes e vigas refletem cores rubras à luz do sol que desaparece, espalhando sombras como verdadeiros desenhos de cadafalso. Bem longe grita uma locomotiva. Quinhentas cabeças de gado vivo foram desembarcadas na estação. O trem volta vazio para pontos de embarque onde novas tropas escolhidas esperam a viajada. Aparecem peõesque vão abrir as porteiras. Todas elas estão entreabertas para recepcionar as vítimasdesta noite.
Os Sinuelos
Agora surgem dois bois pretos que nem pixe.Bem sozinhos troteiam pela porteira da última mangueira. Vão à estação para receber seus semelhantes e conduzi-los direitinho ao destino final da jornada. Anos a fio esses dois animais fazem caminhadas da traição. É tarefadeles, missão de verdugos. Sabe muito bem como é infame o seu ofício, pois, já vão de cabeça baixa, dobrada sob o peso da má consciência... Não demoram a aparecer de novo à frente da tropa. Animais castanhos, com bom peso devido o estado de gordura, vão chegando alegres depois da viagem no vagão apertado, sentindo debaixo de suas patas o campo livre e a pastagem amiga. A meio caminho suspendem a marcha. Param e apertam-se. Farejam sangue que por aqui gruda em tudo; o vento lhes leva até as ventas o cheiro da decomposição que enche o ambiente em torno da charqueada. "Os animais encurralados, assistindo à queda dos companheiros apunhalados aspirando, pelo fôlego atiçado, a matança, parecem enlouquecer". (WAYNE, 1982). "Outros, inquietos, bravios, mostram, na excitação constante com que buscam as frinchas, procurando rompê-las e nos saltos desatinados, armados no espaço estreito em que se comprimem, tentando escalar as paredes, doidos pela salvação na fuga, toda a nervosidade que os sacode. Para cada pessoa que se chega à amurada, olham implorantes". (WAYNE, 1982). “(...) Ao cheiro corrupto da sangueira coalhada, aos charcos, da courama nas estacas, das guampas em acervo, dos estrabos, dos deventres decompostos, o gado, à distância, voluteava em sobressalto instintivo, nauseado e aflito, a mugir”. (MAYA, 2003). Os dois líderes também param, como que assustados. Dão a entender que têm pouco tempo... De vida. Começam a pastar. Tiram todo caráter dramático da situação. Fazem admiravelmente bem seu papel. Seus movimentos são tão decididos e tão enérgica foi partida que toda tropa lhes segue.Cada vez mais rapidamente vão andando os líderes, e cada vez mais inconscientemente lhes vai seguindo a massa castanha. Sem hesitar, saem a trote dolugar da traição, rumo às mangueiras, passando pelo primeiro rastrilho7, o mais largo, para o lugar de
espera, da espera pela morte. Agora, no meio da mangueira, as reses da frente se empinam e fazem força contra a massa que vem vindo como onda assoladora. Mas, as de trás, que ainda nada notaram, continuam empurrando para diante. Os tropeiros com gritos e chicotes ao ar fazem entrar os últimos retardatários. “E repercutiam sonoros nas quebradas os gritos dos peões tangendo a tropa (...)”. (MAYA, 2003). “Os peães campeiros, encarregados das tarefas preliminares de recebimento encerramento das tropas de abate”. (D’AVILA, 1969). Cai o rastrilho. Agora multidão de gado recua em direção à entrada. É tarde. E seus líderes traidores ficam olhando como os homens, do alto do corredor, tocam a tropa de uma mangueira à outra mais próxima, à estação mais chegada da morte. E todas as reses vão se adiantando para a nova porta porque sabem que diante deles ela vai abrir-se. Não é verdade que se pretenda ver algum simbolismo no fato de escolher-se na Charqueada Santa Teresa dois bois pretos para "sinuelos".Deviam ser tão somente dois animais facilmente reconhecíveis.Noutro lugar lançam mão dalguma junta branca ou listrada, de modo a dar na vista.É a cor do pelo que deve servir de garantia aos traidores para que não sejam sacrificados por engano. Mas, se, por acaso, se encontrassem entre as vítimas animais com as mesmas características raciais e da mesma cor de pelo - não poderia um desses "guias" ser facilmente transformado em charque? Eu acho que se poderia adotar outro sinal de reconhecimento, por exemplo, dourar os chifres de dois bois, ou lhes cobrir as guampas com folha de flandres, colorida: isso os distinguiria de tal modo que evitaria qualquer engano. Alhures esse método já obteve os melhores resultados, confirmados por séculos e até milênios de experiência.
Na Mangueira da Frente: Mangueira da Matança
Na mangueira da frente - a menor - estão encerradas vinte reses face-a-face com a morte. A metade da mangueira está ainda sob o céu aberto, ao passo que a outra já se adianta para o interior da "cancha", o pavilhão principal.

O “Curro” ou “brete”

No recorte duma porteira, sobressaem dois muros feitos de moirões, formando alguns metros atrás um ângulo agudo. Neste local começa o serviço da charqueada, isto é, a primeira das muitas etapas. Daqui partem todos os impulsos, todo aquele correr, nesse movimento de trás-pra-cá e leva-pra-lá. É o local da morte, donde parte e começa essa vida agitada. O matador, o homem encarregado de dar o golpe seco, está perto do canto, na volta do muro e no ponto mais alto de todo pavilhão. Ostenta a cara mais faceira que se possa imaginar.Com u'a mão leva o cigarro à boca, o crioulo de palha, e com a outra se apóia na faca. “(...) O chamado trabalho de faca exigia conhecimentos especiais, muita habilidade e traquejo. Começavam nessa espécie como aprendiz de ajudantes, ganhando pouco mais que nada, ou sem remuneração nenhuma até estarem aptos. Eram os carneadores, os despostadores, os manteiros, os descarnadores de couro, os tripeiros. Os salgadores também necessitavam aptidões. Os demais chamados caranchos eram simples carregadores, mergulhadores encarregados de afundar as carnes nos tanques e auxiliares braçais. (...). (...) Se começasse a cair boi todos os dias, teria de tomar changueiros, para pilhas-volta, e talvez mesmo para estender (...)”. (WAYNE, 1982). Esta arma, larga e pontuda, está bem afiada. Fala amavelmente, calmamente com o filho, que está a seu lado, pois o papel deste é de laçar. “Os laçadores, incumbidos do enlaçamento dos animais e serem abatidos”. (D’AVILA, 1969). Agora vai começar a matança.
  • “Solta! Um menino de uns dez anos, vestido de rasgões e de remendos, trepado nuns degraus que descem para alcançar num maquinismo complicado, manejava uma combinação de alavancas. É o guincho. O guincho posto em movimento trepida, deixando escapar uma fumaça branca que vai se condensando, molhando os ferros enquanto desenrola a corda, que, passando em roldanas acima da porteira da mangueira vai ter às mãos do laçador”. (WAYNE, 1982).
  • “Pára! É o sinal que deu o comprimento que foi desenrolado. Um gesto rápido do guri desembaraçado tranca o longo carretel em que se envolve a corda resistente. O laçador, de pé, num parapeito que circunda as paredes altas, dentro das quais está a tropa encerrada, visa o animal, o laço roda em curvas descritas, compassadamente, tomando impulso, e vai numa tirada certeira, pegar pelas duas guampas o escolhido. Um tirão forte prende-o solidamente”. (WAYNE, 1982).
O rapaz pega o laço, atira-o em direção aos chifres da rês dianteira e solta um grito típico.
- “Aperta!”. (WAYNE, 1982).
“Ás vezes, ao berro trágico de um novilho alcançado no curral ao tiro do laço em armada certeira, respondia longe, numa parada instantânea, a voz solitária dos que chegavam lindas boiadas novas, arrancadas à beleza viçosa das querências”. (MAYA, 2003). Imediatamente começa a se movimentar o locomóvel que está ali um pouco retirado. “Outra manobra jeitosa do pequeno encarregado do guincho, e novamente a máquina treme toda, sua vapor, roda o carretel enorme e vai trazendo, primeira molemente, depois tesa, esticada, a corda que faz o laço”. (WAYNE, 1982). “Azeitava-se zelosamente oguincho a vapor que arrastava os animais amedrontados para o sacrifício”. (WAYNE, 1982).Faz girar o tambor, e este enrola a outra ponta do laço. A rês é puxada para dentro do canto. Ela resiste com todas as forças, com receio da morte. “É que a rês segura, reage, urra apavorada e em vão forceja, procurando agarrar-se com os cascos que escorregam no cimento liso, e vai arrastada, sacudindo a cabeça que tenta livrar-se, até ficar com a testa cosida de encontro à porta, impossibilitada de qualquer movimento”. (WAYNE, 1982). Mas os H. P. do locomóvel a levam de vencida. Mesmo outrora, quando cavalos faziam girar o tambor, o animal não escapava do sacrifício. No local existe uma trave contra a qual a vítima bate pesadamente com a cabeça. No mesmo instante para a máquina e o tambor cessa de girar; dá mais uma puxada, a última arrancada. Indefesa, a rês pende da trave.“Já está sobre a zorra que a levará aocarneador. Afrouxam-lhe as pernas e o corpo se estende vencido no chão, ficando o pescoço retorcido suspenso, urina e bosteia pelo relaxamento dos músculos apavorados”. (WAYNE, 1982).
O Matador ou “Desnucador”
“Os desnucadores, com a incumbência da primeira operação do abate”. (D’AVILA, 1969). O matador leva o cigarro à boca. Olha cautelosamente e dá então golpe curto, seco, na nuca, entre a base do crânio e a primeira vértebra. “As facas de dois gumes, com que desnucavam as reses, sobre a parede alta da mangueira, ao alcance do desnucador”. (WAYNE, 1982). “O desnucador enterra-lhe a faca de dois gumes na nuca e a afunda rápida, enquanto o ferro é remexido na ferida. Ensangüenta-se o cutelo e os dedos do homem. Um último urro desesperado fina-se logo com o corpo que amolece. A lâmina, tirando-lhe o equilíbrio, também lhe cortou a voz. Não mais poderá se erguer nem berrar. Só os olhos desmesuradamente abertos dizem da angústia enorme que a invade”. (WAYNE, 1982). "Uma ligeira folga que tivessem, iam solicitar dodesnucador a vez para empunharem o ferroque feria o animal na porta da mangueira". (WAYNE, 1982). “Lá no alto, em plena luz estiva, a resplendorar fecundante, continuava o massacre; de uma em uma, desnucadas a golpe seco (...)”. (MAYA, 2003). Como que atingida pelo raio, ela cai. O rapaz dá mais um grito.
- “Larga!”. (WAYNE, 1982).

Transformação do Boi em Charque

E torna a ranger o locomóvel, gira novamente o tambor – mas em direção oposta, de sorte que o laço solto o animal e este caem ao chão. A cabeça frouxa tomba pesadamente. (WAYNE, 1982).Entra, então, a funcionar u’a maquinaria aparentemente simples ao extremo, mas na realidade cheia de sutilezas. Trabalha com requisitos que só se conhecem através do romance de horrores: Um alçapão invisível, que se abre repentinamente, por onde são arrastadas as vítimas. Uma plataforma começa a mexer-se, de forma inopinada. De fato. Abre-se um alçapão debaixo da trave. De fora entram dois braços, soltam o laço dos chifres do animal e atiram-no novamente para o laçador. Mais uma vez o guincho cede para que seja retirado, das guampas sem ação, o laço. (WAYNE, 1982). A plataforma, da qual falamos antes, é móvel, está deitada. Consta duma chapa de ferro que corre sobre pequenas rodas por cima de trilhos. É azorra. Levanta a porta o tempo necessário para que passe a zorra com a vítima, caindo logo após para que não se solte algum dos mais afoitos. (WAYNE, 1982). “As zorras sobre os trilhos, com o braço - pelo qual iam ser puxadas -, estendido, descansando, no chão de cimento”. (WAYNE, 1982). Às vezes o animal que vai à zorra, não ficando desnucado, levanta-se, aproveitando o espaço que fica desocupado pela saída da zorra e levanta-a, saindo para a cancha. Correm os trabalhadores do fugitivo enfurecido que investe desatinado, procurando alcança-lo. Aquela correria cega, com longas facas afiadas em punho, põe mais vidas em risco do que os chifres da rês em liberdade. (WAYNE, 1982). É quando o capataz, escondido por trás da pilha de sal ou de um dos paus que sustentam o edifício, toca-lhe bala, matando-a a tiros. (WAYNE, 1982). Esta é arrastada a pulso para o carneio. (WAYNE, 1982). “Os zorreiros, encarregados de arrastarem os corpos dos animais, ainda semivivos, ao lugar chamado ‘carneador’ para a decomposição deles em partes”. (D’ÁVILA, 1969). É a via do reparto. É uma verdadeira estrada de cimento, com trilhos para zorra, ao centro. É uma superfície com caídas dos lados, onde o sangue, formando pequenas ondas, escorre para o seu local destinado. “Da alvorada à noite, ali dentro, a morte impava em golfantes caudaes de cruor sadio, nutrido nas coxilhas de grama fina, corado de luz viva nas rabuchantes no saguão vermelho, a morte, dilúculo a dilúculo, impava cá fora, extravasando, a borbotar, do alagamento do lajedo para as rampas áridas, o líquido das lavagens”. (MAYA, 1911). “(...) as reses abatiam nas lájeas enrojecidas (...)”. (MAYA, 2003). É a “praia”! O veículo vai e vem, rês ao lado de rês, seis vezes à direita e outras seis à esquerda. As que vêm, porém, na zorra, são estendidas logo na saída da mangueira, onde, dum lado e d’outro, se enfileiram os carneadores. (WAYNE, 1982). Logo que está ocupado o lugar nº 12, o de nº 1 tem que despachar seu animal e estar livre para nova remessa. E como vai ligeiro tudo isso! Mal cai o corpo, uma faca corta a carótida. “Os matadores, com a tarefa de sangria dos animais”. (D’ÁVILA, 1969). "Cortando com visível satisfação os nervos das patas, quando essas alucinadas coiceavam impotentes tentando se erguer". (WAYNE, 1982). Abre-se a torrente de sangue que corre sobre o cimento. Mais um talho com mão firme e a cabeça rola para o lado. "Ao irem transformando, começando pela cabeça, o corpo todo numa forma vermelha em carne viva, afundando-se no sangue, riam sozinhos, como quem está num momento de felicidade completa". (WAYNE, 1982). Os carneadores, como hábeis cirurgiões, manejam com rapidez incrível a faca. Num abrir e fechar de olhos – quase se poderia aplicar este termo – o couro se solta da carne da rês e, em seguida, os descarnadores a colocam por sobre largos cavaletes rasos, onde operam os últimos retoques da limpeza total, sem deixar o menor pedaço de carne ou aderências desta. “As coxas e as paletas, dependuradas dos ganchos do desposte, pelavam-se instantaneamente, soltando-se dos ossos que branqueavam lisos sem uma mancha”.(WAYNE, 1982). "Praguejavam com essa alegria feroz que revela o gozo do bandido, torturando a sua presa, se tremia o couro já meio despegado". (WAYNE, 1982). "Tinham ditos de deboches se, ao cortarem a língua do animal ainda vivo, esse tentava uma reaçãosacudindo os músculos expostos". (WAYNE, 1982).

As Operações e as Diferenças

O couro passa pela salga e, finalmente, atiram-no no monte que se vai formando. Neste ínterim, os intestinos saltam dos buchos abertos e vão rolando sobre passadiços, conduzidos por rapazes que levam ganchos nas mãos. As víceras vão para a secção “triparia”. E sempre no mesmo diapasão, os carneadores limpam a carne dos ossos, dividem-na em duas partes dianteiras e traseiras e a enviam aos charqueadorespropriamente ditos. “Dali passavam para a mesa do manteiro que abria com as xarqueadeiras afiadas e ligeiras as peças de carne, fazendo-as desdobrar em segundos, adelgaçando-as para que o sal penetrasse bem”. (WAYNE, 1982).Estes trabalham à parte, junto a mesas grandes. Assemelha-se a alfaiates, cortando fazenda rubra de sangue. “(...) esquartejavam-nas com perícia (...)”. (MAYA, 2003). Dá a carne forma de pequenos tapetes. Os despostadores extraem os últimos pedaços de carne do esqueleto. “Os despostadores, encarregados de retirarem dos ossos a posta denominada coxão e paleta que se confiam aos charqueadores”. (D’ÁVILA, 1969).Em nuvens de fumo de sangue, estes trabalhadores ficam de cócoras dentro da armação do esqueleto, à maneira de prisioneiros em gaiolas. É possível vê-los trabalhar através daquelas grades de ossos. Dentro do espaço de oito horas, devem estar sacrificadas e devidamente preparadas quinhentas reses. “(...) esfolavam-nas às centenas (...)”. (MAYA, 2003).Dá sessenta cabeças por hora. “Em duas horas,48 animais haviam se transformado, em mantas, coxões, paletas, chicos, miudezas, couro, cola, umbigo, tripa, língua, ossos e graxa”. (WAYNE, 1982). “Os matambreiros,manteiros e quarteiros que, no ‘carneador’ tripartiam atividades tendentes a transformar a rês em peças, ditas matambres, mantas e quartos e paletas, para serem levadas à ‘mesa do charqueamento’, onde as referidas peças se subdividiam, sob as facas afiadíssimas dos ‘charqueadores’, em pedaços preparados para a salmoura e o sal seco”. (D’ÁVILA, 1969). A cada minuto o matador sangra um animal. Uma vez por minuto a zorra corre dum lado a outro, e dentro de 12 minutos cada rês está esquartejada. Desapareceu... Ontem à noite, quando os empregados começaram com o serviço, o sol poente entrava pelas portas corrediças abertas e vinha cair sobre os aventais e tocas alvíssimas recém-lavadas. No lusco-fusco das lâmpadas elétricas, o ar tornara-se denso, prenhe dos vapores de sangue e das exalações dos intestinos e excrementos. “A instalação elétrica, revisada; não fosse faltar a luz”. (WAYNE, 1982). "Duas horas mais e era insuportável aquele ambiente". (WAYNE, 1982). “O ar pesado, morno pelas emanações do sangue quente, pesteava-lhe o estômago, causando-lhe náuseas e um mal estar horrível”. (WAYNE, 1982). O chão cimentado está escorregadiço, de urina e de excreções apesar das duchas contínuas de água, que jorra em abundância. “(...) e de novo a sineta a chamar à cancha, de novo a trágica berraçada no curralete viscoso as dejeções, de novo a morte a opor à policromia opulenta do dia criador, à delicada irisação do céu, à verdura sã das árvores, a sua púrpura de carne aos retalhos, a rubra corrente de sangue vivo, as cambiantes aéreas das varejeiras em nuvem, a negra teoria dos urubus ávidos, o acúmulo violáceo dos detritos, toda a mole fumante das entranhas apodentradas (...)”. (MAYA, 2003). “O nível da água, cuidado: para que não faltasse água na cancha. (WAYNE, 1982)”. Era significativa a falta de higiene nas charqueadas, na manufaturação das carnes, no pessoal da charqueada, e sobremaneira no expurgo posterior dos resíduos animais, prática de se lançar nos riachos mais próximos, o sangue, que apodrecido prejudicava as águas de todo o riacho e aos proprietários rurais cujos campos fossem atravessados pelo leito do rio podre. Em certas épocas, era quase intolerável a permanência até regular distância tal o fétido penetrante e nauseabundo das charqueadas. (GAFFREÉ, 1921). Os aventais e as toucas, brancas ainda a pouco, agora estão tintas de sangue. “(...) exudava8 sangue do vestuário roto”. (MAYA, 2003). Os rostos, as mãos, as facas e as chairas9 estão rubros. “(...) e cada sacrificador, ao pisar o portal, goteava sangue dos facões, tinha nódoas de sangue pelo corpo (...)”. (MAYA, 2003). “Enquanto o homem chaira a faca com a displicência com que assentaria o fio dum canivete, para descansar uma laranja, os aguadeiros, roupas ensopadas, grudadas, fazendo em panos alto relevo de ossos salientes, magrezas extremas de indivíduos de 11 a 14 anos, arcabouços curvados como armados por vigamentos ordinários, sem solidez, que a chuva e o sol fossem carcomendo; ali irão até a noite, ao preço de R$ 3$500, jogando água para lavar o sangue, varrendo os excrementos e as postas sangrentas coaguladas, com vassouras de chircas, com um galho fazendo de cabo ainda coberto pela casca da árvore”. (WAYNE, 1982). “Chairadas – adj. – Sinônimo de afiadas ou com o gume bem talhante; facas chairadas, com o fio aguçado pela chaira que é instrumento de aço, terminado em ponta, em geral com cabo de osso ou de madeira que os gaúchos usam para afiar as facas. O verbo chairar significa o ato de passar a faca na chaira com o propósito de afia-la”. (D’ÁVILA, 1969). E sempre continua gemendo o locomóvel, continua girando o motor e a zorra movimentando-se com novos carregamentos. E dentro desse lusco-fusco, no meio do fumo e da maré de sangue e vísceras, os mineradores desta mina de carnes vão carneando e despostando, esquartejando e desmanchando. E as pilhas de carne vão crescendo, crescendo, crescendo...

A Salga

“Depois iam se pendurar nas longas travessas de madeiras dos resfriadouros, onde ficavam tremelicando, encolhendo-se e estirando-se, até esfriarem bem, para então descerem aos tanques das salmouras, de onde meia hora depois sairia para serem salgadas e empilhadas”. (WAYNE, 1982). As mantas de carne crua vão tomando o caminho da salmoura, um banho de solução de sal. “Os tanques limpos, cheios de salmoura, borbulhavam bem dosados”. (WAYNE, 1982).Depois de trinta a quarenta minutos, saem esmaecidas, de cor “chumbeada”, isto é, de cor cinza escuro. “O capataz percorria as varas dos resfriadouros e, com a mão fechada, dava um soco sobre vários pedaços de carne; se esses não cediam no lugar do golpe e voltavam a se estreitar novamente, se estavam completamente inertes, sem elasticidade nenhuma, gritava para um dos caranchos”: (WAYNE, 1982).
- “Encosta o carrinho aqui; bota essa de volta no tanque”! (WAYNE, 1982).
“É que podia ser pesada e posta na salmoura”. (WAYNE, 1982).
“Os ‘merguiões’ ou ‘marguiões’, munidos de varas compridas, junto ao reservatório da salmoura; incumbidos de ensalmourar a carne, com mergulhos repetidos e precisos”. (D’ÁVILA, 1969). Ainda depois passam para a salga, isto é, para receber a primeira camada de sal seco. Num canto de pavilhão da charqueada, vê-se uma montanha formada de cristais brancos, com três a quatro metros de altura. “Carrinhos carregados de sal se derramavam no monte farto e branco que clareava alto num canto da salga pronto para ser lequeado pelas pás ágeis dos salgadores”. (WAYNE, 1982). Destinam quarenta e cinco quilos de sal para cada rês carneada. Á frente, estende-se uma eira. “Antigamente a ‘eira’ designava aquele terreno de terra batida ou cimento, onde deixam os grãos ao ar livre. E ‘beira’ era a beirada da eira. Assim, quando uma eira não tem beira, o vento leva os grãos ao deus-dará e o proprietário fica sem nada. Um dado curioso, a observar, é que antigamente as casas das pessoas abastadas tinham no telhado dois tipos de acabamento, a beira ceveira (beira sobre beira = beiral) e a eira que era o acabamento decorado, feito na fachada, e a casa da plebe tinha apenas o telhado sem acabamento. Esse elemento arquitetônico acrescentou outro termo ao idioma - sem eira nem beira - que significa situação de miséria”. (KARLBERG, 2005). Então seis homens, munidos com pás, tiram montes daqueles cristais miúdos e lançam-nos ao ar. “Os salgadores, com a tarefa de tratar a carne a sal seco, na chamada ‘cancha de salga’, depois de retirada dos tanques de salmoura”. (D’ÁVILA, 1969). Atira-se, sobre aquele estrado já feito, u’a manta que cai com grande ruído; por cima desta continua caindo chuva de cristais de sal, formando então grossa camada sobre toda a superfície da carne charqueada. Outra manta vem cair sobre a primeira; nova camada de sal cobre-a totalmente. E assim prossegue o processo da salga até os salgadores formarem uma pilha, a qual depois é removida dali. “As caneletas que cortavam acancha, para dar escoamento às águas, eram tapadas nas bocas para guardar as salmouras que escorressem das carnes molhadas, depois de gancheadas dos tanques em que mergulhavam”. (WAYNE, 1982). Num canto faz-se outra pilhade verdadeiros tapetes de carne, os quais estão agora fortemente impregnados com salmoura e sal. Oito horas mais tarde, repete-se o processo de forme idêntica à última. Depois de ressalgada, a carne toma a cor cinza claro; quase branca. A montanha de sal já não existe mais. No dia seguinte, a pilha sofre outro processo: as mantas de baixo ficam em cima, e vice-versa. Termina assim a salga. Na chamada “pilha de inverno” a carne pode conservar-se, sem perigo de decomposição, durante anos a fio. Se o mercado for favorável e fizer bom tempo, a carne feita charque passa para o secador.

Dessecamento

Varais

Compõe-se de compridos cavaletes de madeira,varais, como são mais conhecidos, ocupando vários hectares de superfície. A localização destesvarais é bem próxima da charqueada. Com o comprimento de cem e mais metros, um fica ao lado do outro, na distância exata para passar um homem. São bem semelhantes a barras de ginástica. Ao longe já indicam aos viajantes que o estabelecimento é uma charqueada. Transportam-se as mantas para os varais por intermédio de carrinhos de mão. Ali os trabalhadores as estendem para que o sol e o vento façam secagem. “Por fim, os trabalhadores ou peães do varal, isto é, a turma encarregada de preparar a seca da carne”. (D’ÁVILA, 1969).Bem perto, em cima de mesas de cinqüenta e mais metros de extensão, estão os cavacos(pedaços pequenos de carne charqueada). Do lado, depurados no arame, balouçam ao vento retalhos de carnes menores, de cor suja, meio cinza, meio branca. São os corações... Ao meio-dia, vira-se o charque que está nos varais. Á noite, recolhem-se mantas e são empilhadas em montes de tamanho e forma de rancho. Finalmente, os trabalhadores estendem por cima dos montes a lona impermeável. Sujeitando o telhado, colocam pedras, mais ou menos pesadas, para que o vento da noite não levante a lona. Quando o tempo é seco e quente, obtém-se dessa carne salgada, em questão de cinco e seis dias, o “charque de vento” que é comerciável. “Os largos portões abertos recebiam a ventilaçãoda viração que passava e entrava para ir lá dentro arejar a cancha”. (WAYNE, 1982).Procede-se depois à “enfardação”. Colocam-se sempre oito partes determinadas em cada fardo: Os dois coxões (as ancas externas), os dois chicos (as ancas internas), as duas paletas, de modo a formar o todo um animal inteiro. Cada fardo pesa oitenta a cem quilos. “Taravam as balanças”. (WAYNE, 1982).

Classificação do Charque

São bem curiosas denominações usuais no comércio do charque, como sejam: 2 AA e 2SS, 2XX e 2 GG, 2 BB e 2 MM. Com estas indicações qualificam-se as diversas partes do animal, como por exemplo: anca externa ou interna, ou qualquer outra parte ainda. As partes AA precisam ser bem gordas, as SS são magras, as BB significam “bonito” e MM “completamente magro”.

Geografia do Charque

Por toda parte do Brasil do Norte, encontra-se charque rio-grandense nos mercados. Na Bahia e Pernambuco, em Ceará e Piauí. Em Belém do Pará ocupa o produto alimentar lugar bem visível nas bancas do mercado do porto. Fotografava esse charque sempre que via no meio de gêneros alimentícios da região, quando os cristais de sal cintilavam à luz do sol tropical (HARNISCH, 1941).

Os Miúdos

Papel saliente ocupam os “miúdos”, isto é, os produtos secundários do animal. O melhor dentre eles é a língua feita em conserva. Os tendões, os nervos e as cartilagens transformam-se em cola, depois de cozidos; os rabos vão para as fábricas de pincéis. Chifres e cascos constituem importante matéria-prima para a indústria de botões. Fileiras enormes de colas secam em altas grades; nervos e tendões pendem atados em arame. Vêem-se queixais aos montes. Na casa da caldeira da secção de graxaria estão os digestores, com capacidade de oitenta toneladas.“Os coureiros que se incumbiam de levar ao descarnador o que se chamava a ‘gabardine’ do boi, isto é, restos do animal, depois de ter passado pelo picador, e pelos digestores”. (D’ÁVILA, 1969). Aí lançam os ossos depois de esmiuçados a martelo e machadinha. “As tinasde cozinhar os ossos destapados”. (WAYNE, 1982). Dá-se vapor. Quando, então, depois de horas, se acrescentar água fria, sobem ao alto as massas de graxa, a qual foi extraída dos ossos em virtude da ação do vapor quente. Escorrida para reservatórios, constitui essa massa o sebo industrial que, depois de previamente refinado, destina-se ao consumo com a denominação de graxa de caracu10. Depois, o que fica os ossos
recozidos e sem nenhuma gordura, são moídos e transformados em adubo para terras lavradas.
Figura 6 É o gado europeu mais adaptado ao clima tropical, pois está presente no Brasil desde o período colonial. Esta raça descende de bovinos portugueses (Minhota e Alentejana), por meio de cruzamentos. No início a pelagem era a mais variada possível. Hoje, a pelagem é amarela, variando até o vermelho, evitando-se pêlos negros e brancos. O Caracu é considerada uma raça de dupla aptidão que surge como excelente opção nos cruzamentos, devido a sua secular adaptação aos trópicos. Os touros são capazes de cobrir as vacas em regime de pasto, sendo uma das poucas raças européias com bom desempenho para utilização em monta natural nas condições tropicais. Fonte:http://www.abccriadores.com.br/pecuaria/pecorte.htm. Acessado em: 29 de agosto de 2006. Hora: 16:54 h.

O Combustível da Charqueada: O Carvão

Na charqueada de Santa Teresa a casa da caldeira é aquecida com carvão do município de Bagé. Este combustível não é muito bom, mas dá calorias em maior porção que a lenha e custa apenas R$ 20$000 (réis) a tonelada.

A Tradição

Apesar das inovações, como caldeiras modernas e máquinas a vapor, conserva-se nas charqueadas rio-grandenses velho processo com seus conhecimentos e facilidades próprias da atividade industrial. Nesse pedaço do folclore que nos oferece à vista o quadro da charqueada, deve-se juntar também certa tradição no trabalho. Muitos saladeristas ocupam hoje (1941) o lugar onde esteve o pai e até o avô.

O Trato com os Trabalhadores

Admitindo-se o testemunho de Saint-Hilaire, em parte alguma, do Brasil antigo, os escravos passaram tão miseravelmente como nas charqueadas. Hoje (1941), isso já vai longe. O Estado Novo tomou sob sua tutela o proletariado da indústria derivada do gado, incluindo-o na legislação de previdência trabalhista. Muitas charqueadas, por sua vez, superam as disposições meramente legais. O Sr. Hugo Moglia, um dos proprietários da Charqueada Santa Teresa, teve a gentileza de ministrar-nos os ensinamentos da organização duma charqueada, seu conhecimento e estudo. Além disso, mostrou as casas onde foram instalados os trabalhadores permanentes da empresa. Disse ainda que sua firma põe gratuitamente à disposição dos operários, assistência médica, medicamentos, etc. Não satisfeita, ainda dispende somas consideráveis na assistência que presta à saúde do proletário e de sua família. Os salários pagos nas charqueadas durante o período de safra, que vai de janeiro a junho, são de seis mil réis diários, para os trabalhadores permanentes. “Por ocasião da safra seca, com o encerramento da matança, de um modo geral só continuavam empregados os peães do varal, sendo despedidos os outros que representavam algumas centenas”. (D’ÁVILA, 1969). Os que são admitidos somente para a duração da safra gorda são pagos à razão de doze mil réis. Além disso, recebem todas apreciáveis quantidades de carne para alimentação de suas famílias.
Referências Bibliográficas:
BOUCINHA, Claudio Antunes. A História das Charqueadas em Bagé (1891-1940) na Literatura. Dissertação de Mestrado. Porto Alegre: PUC-RS, 1993.
BUCCELLI, Vittorio. Un Viaggio a Rio Grande Del Sud. Milão: L. F. Pallestrini, 1906.
CASTELHANOS, Alfredo R. Breve Historia de la Ganadería en el Uruguay. Montevideo: Banco de Crédito, 1973.
CONDE D’EU. Viagem Militar ao Rio Grande do Sul (Agosto a Novembro de 1865). São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1936. (O conde esteve em Pelotas, quando observou as charqueadas possivelmente em 25 de outubro de 1865).
COUTY, Louis. A Erva Mate e o Charque. Série História, Educação e Cultura do Pampa II. Pelotas: Seiva, 2000.
D’ÁVILA, Floriano Maya. Terra e Gente de Alcides Maya. Porto Alegre: Sulina, 1969.
DREYS, Nicolau. Notícia Descritiva da Província do Rio Grande de São Pedro do Sul. Porto Alegre: SEC/IEL, 1961. (Pelotas, entre 1817 e 1827).
GAFREÉ, Candido B. Contribuição à Carta Nosográfica do Brasil (Bagé e Município). Bagé: Tipografia do Povo, 1921.
GONÇALVES, José O. N. & GARCIA, Élida H.Associação e Sindicato Rural de Bagé: Cem Anos. Bagé: Associação Rural, 2004.
HARNISCH, Wolfgang Hoffmann. O Rio Grande do Sul: A Terra e o Homem. Porto Alegre: Globo, 1941.
MAYA, Alcides. “Xarqueada”. In: Tapera: cenários gaúchos. Prefácio de Augusto Meyer; fixação de texto, notas e vocabulário por Carlos Jorge Appel. 3ª ed. Porto Alegre: Movimento; Santa Maria: UFSM, 2003. [1ª edição Rio de Janeiro: H. Garnier, Livreiro-Editor, 1911; 2ª ed. Texto estabelecido por Augusto Meyer, Rio de Janeiro: F. Briguiet & Cia., Editores, 1962]. Provavelmente, Maya escreveu o conto “Xarqueada” em 1910, descrevendo a charqueada do Vacacaí, em São Gabriel.
MARQUES, Alvarino da Fontoura. Episódios do Ciclo do Charque. Porto Alegre: EDIGAL, 1987.
_______________________________. Evolução das Charqueadas Rio-Grandenses. Porto Alegre: Martins Livreiro, 1990.
_______________________________. A Economia do Charque. Porto Alegre: Martins Livreiro, 1992.
OSÓRIO, Pedro Luís. Rumo ao Campo. Pelotas: 1933.
PIMENTEL, Fortunato. Charqueadas e Frigoríficos: Aspectos Gerais da Indústria Pastoril no Rio Grande do Sul. 1945.
PESAVENTO, Sandra Jatahy. A Burguesia Gaúcha: Dominação e Disciplina do Trabalho (RS: 1889-1930). Porto Alegre: Mercado Aberto, 1988.
SAINT-HILAIRE, Auguste. Viagem ao Rio Grande do Sul. São Paulo: USP, 1974. Pelotas (entre 1820 e 1821).
SILVEIRA, Hemetério José Velloso da. As Missões Orientais e seus Antigos Domínios. Porto Alegre: ERUS, 1979. (SILVEIRA usou dados do ano de 1908, referentes à Bagé. A obra foi publicada em 1909).
SMITH, Herbert H. Do Rio de Janeiro a Cuyabá (1881-1886). São Paulo: Melhoramentos, 1921. Herbert Smith em 1882, passando por Pelotas.
WAYNE, Pedro. Xarqueada. 2ª edição. Porto Alegre: Movimento/IEL, 1982. Romance escrito a partir de 1932, sobre a charqueada São Miguel, de Edmundo Correia; é publicado em 1937.
Sites consultados:
KARLBERG, Luísa Galvão Lessa. “Sem Eira Nem Beira”. In: A GAZETA. LETRAS & LETRAS. Colunas Semanais. 18/09/2005.http://www.agazeta-acre.com.br/colunas.htm . Acessado em: 22 de setembro de 2005. Hora: 00:09 h.
http://www.valsousa.pt/paredes/historia/index.html. Acessado em: 23 de setembro de 2005. Hora: 20:44 h.
http://www.valsousa.pt/paredes/historia/freguesias/ccepeda.htm. Acessado em: 23 de setembro de 2005. Hora: 21:06 h.
http://www.sergiosakall.com.br/artistas/personalidade_dcarlos.html. Acessado em: 29 de setembro de 2005. Hora: 12:39 h.
COLABORARAM:
Yerecê Belmonte Moglia.
Maria Luiza Teixeira da Luz.
Fernanda Codevilla Soares.
Maria Luiza Pegas.
1 “Andou também o barão (de Piratinim) a mostrar-me às famosas charqueadas, estabelecimentos aonde os bois que vêm do interior são mortos, esfolados e salgados”. (CONDE D’EU, 1936).
2 Freguesia é o nome que têm, em Portugal, as menores divisões administrativas. Trata-se de subdivisões dos concelhos e são obrigatórias, no sentido de que todos os Concelhos têm pelo menos uma freguesia (cujo território, nesse caso, coincide com o do Concelho). Em Portugal existem cerca de 4 200 freguesias, com territórios que podem ultrapassar os 100 km² ou ser de apenas alguns hectares, e populações que vão das dezenas às dezenas de milhares de habitantes. É aos municípios que cabe propor a criação de novas freguesias no seu território, que devem obedecer a um conjunto de critérios fixados em lei. As freguesias portuguesas são a representação civil das antigas paróquias católicas; surgiram muitas das vezes decalcadas das antigas unidades eclesiásticas medievais. Daí que, em tempos mais recuados, o termo «freguês» servisse para designar também os paroquianos, os quais eram «fregueses», por assim dizer, do pároco. Fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/Freguesia . Acessado em: 29 de agosto de 2006. Hora: 17:31 h.
3 Castelões de Cepeda é uma freguesia portuguesa do concelho de Paredes, com 3,69 km² de área e 7 299 habitantes (2001). Densidade: 1 978,0 hab/km².http://pt.wikipedia.org/wiki/Castel%C3%B5es_de_Cepeda. Acessado em: 29 de agosto de 2006. Hora: 17:33 h.
4 Antônio Nunes de Ribeiro Magalhães nasceu na freguesia de Castelões de Cepeda, da “cidade” de Paredes (Portugal) em 5 de Outubro de 1841.
5 Ictiologia é o ramo da zoologia devotado ao estudo dos peixes. Inclui os peixes com ossos (Osteichthyes), os peixes cartilaginosos (Chondrichthyes) como os tubarões e as arraias, e os peixes sem mandíbula (Agnatha). Como existe praticamente o mesmo número de espécies de peixes que de todos os outros vertebrados juntos, e eles estão em processo de evolução há muito tempo, existe uma incrível variedade de peixes. Enquanto a maioria das espécies provavelmente foi descoberta e descrita, a biologia e o comportamento de peixes ainda não são identificados. A ictiologia está associada com biologia marinha, limnologia e o oceanografia. Fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/Ictiologia . Acessado em: 29 de agosto de 2006. Hora: 01:19 h.
6 “Estabelecimento onde é abatido o gado para o fabrico do charque; o mesmo que saladeiro. (Cf. CALLAGE; In V. S. R. G.)”. (D’ÁVILA, 1969).
7 Definição de Rastrilho. s.m. Ancinho ou grade, com cujas pontas se espicaça e limpa a terra ao mesmo tempo. / Grade armada de pontas de ferro que se baixava do alto de uma fortaleza para impedir o acesso a uma praça-forte. Fonte:http://www.kinghost.com.br/dicionario/rastrilho.html. Acessado em: 29 de agosto de 2006. Hora: 01:50 h. Do italiano rastrello sub rastrilho, grade. rastrilho. [esp. rastillo.] S. m. Bras. S. Grade ou ancinho para espicaçar e limpar a terra. Contribuição do espanhol ao léxico do português? Ital. rastrèllo e rastèllo. Fr. Râteau; sp. Rastrillo, rastillo ; port. Rastelo, rastilho:
8 “Através da superfície epitelial exsudava um líquido amarelo claro que, ao secar, formava uma crosta marrom-amarelada sobre a pele”.http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-736X2001000400007&script=sci_arttext . Acessado em: 29 de agosto de 2006. Hora: 02:16 h.
9 Utiliza-se para afilar los cuchillos. Cilindro de acero que usan los carniceros y otros oficiales para afilar sus cuchillas; (ing. "sharpening steel"). Bastão de aço, cilindrico ou ovalado, com ou sem estrias longitudinais, que se utiliza desde tempos imemoriais para assentar o fio de lâminas. Embora a tradução do têrmo inglês seja literalmente "aço de afiar" e muitos acougueiros também julguem que as chairas afiam lâminas, tecnicamente ela serve tão somente para o propósito citado. chaira. [esp. plat. chaira.] S. f. Bras. S. Peça de aço para amolar facas. chairar. [esp. plat. chairar.] V. t. d. Bras. S. Afiar com chaira. Como utilizar corretamente uma chaira; para afiar sua chaira: 1 - Ponha a faca contra a ponta da chaira em um ângulo de aproximadamente 20 graus; 2 - Traga a faca para baixo fazendo um movimento em forma de arco; 3 - Repita esta ação com o outro lado da lâmina; 4 - Repita os passos 2 e 3 de cinco a dez vezes, alternando as faces direita e esquerda do fio.
10 Caracu é uma raça de boi desenvolvida no Brasil, com pelos lisos e avermelhados. Para os gaúchos, a palavra cacacu pode ser também: * a medula contida no osso do animal, ou tutano; * grande resistência, coragem; * um botão de madeira - onde se prende as cordas - de um carro de boi. http://pt.wikipedia.org/wiki/Caracu. Acessado em: 29 de agosto de 2006. Hora: 16:48 h. “Alguns ossos, principalmente os da perna, providos de ‘caracu’ (tutano), os de alcatra e da paleta são aproveitados para fervidos e sopas; o resto vai para a extração da graxa bovina”. Fonte:http://www.paginadogaucho.com.br/culi/intro.htm. Acessado em: 29 de agosto de 2006. Hora: 16:58 h.  

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