Ano de 1841, Rumo à Montevideo, Garibaldi faz a travessia de uma das vaus do Rio Negro: Paso de los Toros?


Claudio Antunes Boucinha1



Introdução

Em 2021, comemora-se 200 anos do nascimento de Anita Garibaldi, 30 de agosto de 1821 – 30 de agosto de 2021 2.

O tema insere-se num assunto que envolve as grandes caminhadas da história.

Prestes e seus companheiros, numa guerra de movimento, entre abril de 1925 e fevereiro de 1927, percorrem 25 mil quilômetros por dez Estados brasileiros, do sul ao norte, em uma média de 33 quilômetros de caminhada diária, obrigando o presidente Arthur Bernardes e o Exército a lançarem mão de cangaceiros e bandos armados, até se internarem invictos na Bolívia. (…) Num prazo mais curto, quase dez anos depois, entre 15 de outubro de 1934 e 20 de outubro de 1935, o Exército Vermelho na China percorrerá 10 mil quilômetros (ainda que num território mais acidentado). Depois dessa Grande Marcha, o Comintern olhará o Brasil e verá a China, fitará Prestes e enxergará Mao Tse-tung.3




No caso de Garibaldi, essa caminhada vai muito além da que foi feita pelo interior do Uruguai, em direção a Montevideo. Aparentemente, uma referência mundial sobre o assunto é SCIROCCO, Alfonso; mas não é a única. 

"O envolvimento de Garibaldi havia terminado algum tempo antes. O plano de construir navios em San Simon falhou e a área teve de ser abandonada devido às incursões de Moringue. O comandante da escassa Marinha da Republica foi reenviado ao Capivari para construir navios de transporte de tropas na Lagoa dos Patos, que continuava no centro dos combates devido à persistência do cerco de Porto Alegre. Rossetti foi morto perto de Viamão durante uma surtida dos defensores da cidade em 24 de setembro de 1840. Até o fim, sua lealdade à república era inabalável e ele havia trabalhado por ela com paixão sem fim. No final de dezembro, Gonçalves decidiu desistir do cerco e retirou-se para São Gabriel, que se tornou a terceira capital da república. Garibaldi e os seus marinheiros juntaram-se à força de Canabarro de 1.800 homens, que foi enviada às terras altas da Sierra para combater as forças imperiais que vinham das Lajes. A marcha pela floresta foi muito dura e não conduziu a nada conclusivo, visto que os dois exércitos não se encontraram. Finalmente Garibaldi juntou-se a Goncalves em São Gabriel. Lá ele conheceu Francesco Anzani, um exilado da Lombardia que imediatamente se tornou seu amigo. Ele deveria tê-lo ao seu lado no Uruguai. Era março-abril de 1841. Por muitos meses, Garibaldi ficou praticamente inativo. Ele se envolveu em algumas tarefas de pouca importância que o expunham menos a sacrifícios consideráveis. Compreendeu que havia pouco espaço para ele e sentiu o cansaço de uma guerra que não tinha perspectivas de vitória. Ele não tinha tempo para a forma como as diferenças políticas eram personalizado, e foi revoltado com a insensibilidade dos soldados em relação ao sofrimento das populações locais e ao ciclo interminável de violência. Além disso, acontecimentos em sua vida privada trouxeram novas responsabilidades pessoais e familiares que exigiram que ele encontrasse uma residência confortável e, ao mesmo tempo, fora privado da amizade de Carniglia, Mutru e Rossetti. Depois de uma entrevista de várias horas com Bento Gongalves, ele obteve autorização para sair do Rio Grande “temporariamente” para ir a Montevidéu"(p. 89-90). "Como pagamento pelos serviços prestados à república, o ministro das Finanças Almeida cedeu-lhe o direito de levar mil bois. Não foi fácil separar os animais e encaminhá-los em um rebanho. Depois de trabalhar vários dias no Curral das Pedras, os pastores conseguiram com grande dificuldade reunir novecentas cabeças de bois. Garibaldi partiu na companhia de trabalhadores contratados, que se mostraram desleais ou ineptos, para percorrer os seiscentos quilômetros entre San Gabriel e Montevidéu. A viagem a Rio Grande a cavalo pelo sistema escotero foi uma experiência agradável. Na marcha de retorno o rebanho impôs um ritmo muito lento, com paradas para pastejo e rega. Demorou cinquenta dias e revelou-se uma viagem extremamente penosa. Quatrocentos bois morreram afogados na travessia do Rio Negro, enquanto outros morreram de exaustão. Os demais animais serviram para pagar os troperos ou foram sacrificados. Garibaldi ficou com trezentas peles que vendeu em Montevidéu, onde chegou em junho de 1841. Morou no Rio Grande três anos e nunca mais voltou(p. 90). [Alfonso Scirocco. Garibaldi. Princeton: Princeton University Press, 2007. https://archive.org/details/garibaldicitizen00scir/page/n7/mode/2up ].

O "Curral das Pedras" é apontado, atualmente, no Município de Rosário do Sul:

"Rosário do Sul na 'SAGA GARIBALDINA'. Dentro das comemorações da Semana da Cultura de Rosário do Sul , ocorreu na Estância Curral de Pedras (à época, pertencente ao município de São Gabriel), o descerramento da placa que marca a passagem de Giuseppe, Anita e o filho Menotti, na propriedade, refazendo assim os passos deste Herói e incluindo Rosário do Sul na Rota Internacional da Saga Garibaldina". [Postado por Instituto Anita às 16:44, novembro 11, 2005. http://institutoanita.blogspot.com/2005/11/rosario-do-sul-na-saga-garibaldina.html ]

O ponto de partida é São Gabriel, em 1841. O caminho é pelo interior, cruzando rios. Um dos rios, foi o Rio Negro; em que altura em que ocorreu a passagem, que deu pé, necessita de investigação.

“Seus olhos, azuis como o céu uruguaio, ficaram extasiados ao contemplar nossa natureza exuberante de maravilhas sublimes. A 'Pérola do Prata', como um poeta romântico chamou nossa bela Capital, exerceu um poder irresistível em sua mente. Ele tinha visto Montevidéu, embora furtivamente; mas sua imaginação, criativa e viva, fazia com que ela se sentisse um paraíso encantado, ainda mais belo e muito mais cheio de atrativos do que aquele que Milton pintou para nós em sua obra na mortal. Por isso o escolheu em 1812 para ali formar um lar honesto, que não poderia constituir em solo brasileiro, apesar do amor íntimo que professava por Anita desde a manhã ao passear por Laguna, sobre o castelo [https://es.wikipedia.org/wiki/Castillo_(n%C3%A1utica); https://es.wikipedia.org/wiki/Castillo_de_proa ;  https://sites.google.com/site/caracteristicasdelbuque1/ca ] do  Itaparica [“Ao chegar a Laguna, a bordo da embarcação "Itaparica", tomada do inimigo e armada com sete canhões, Garibaldi observava com uma luneta as casas da barra de Laguna. Observou então, em um grupo de moças que passeava, uma jovem cujo rosto conquistou sua imaginação e seu coração. Providenciou um barco, foi até a margem e depois até o local onde a tinha visto, porém não a encontrou”].[Giuliani, Isidoro (2001). Anita Garibaldi. vita e morte (em italiano) 1 ed. Mandriole: Parrocchia di Mandriole – Ravenna. https://pt.wikipedia.org/wiki/Anita_Garibaldi ], ele a avistou entre uma das habitações solitárias que se erguiam majestosamente nas proeminências da Barra.Você deve ser minha, ele disse então, cruzando amorosamente seus olhares com  a riograndense [catarinense?], e daquele dia em que pertencia a ele de corpo e alma, compartilhando com ele todas as labutas, todos os choques e toda a amargura de uma vida nômade, reze sobre as ondas, em barcos frágeis, em meio ao rugido de estilhaços, ou entre as rochas íngremes, tremendo de frio, submetida a uma dor mais terrível que a de Tântalo, com o seu Menotti nos braços, a cavalo ou a pé, os seios secos e o estômago exausto. (Doze dias após o parto, ela fugiu de Simon, levando seu filhote na frente da sela de seu cavalo). Garibaldi, mudando seu papel como marinheiro e soldado de infantaria, —ao se aposentar das fileiras republicanas, - tornou-se, embora acidentalmente, em  tropeiro, porque com a autorização do Ministro da fazenda da embrionária república de Río Grande, conseguiu reunir, não sem grande trabalho, uns novecentos cabeças de gado, destinado por ele a tablada da capital uruguaia. O longo caminho a percorrer, seu noviciado naquela tarefa campeira, a má fé de alguns de seus acompanhantes, e, sobretudo, a enchente do rio Negro, que saíra de seu canal, estragou todas as suas ilusões de lucro, pois mal conseguiu salvar trezentas peles dos quinhentos bovinos que acabara de vadear. Ele ainda tinha uns trezentos quilômetros para percorrer com seus animais, que é a distância do Rio Negro a Montevidéu; mas a magreza e o cansaço destas,  impossibilitavam continuar a marcha com elas, sendo preferível vendê-las em pequenos lotes, ou uma a uma, durante o trânsito, aos vizinhos mais próximos, o que fez a baixo preço. As poucas que permaneceram, foram coureadas por sua gente, para não perder tudo sem ganho pessoal. Passaram-se cerca de dois meses desde sua saída da citada província brasileira. Isso explicará os contratempos e o cansaço que uma tarefa tão rude terá exigido dele, embora nunca tenha havido obstáculos intransponíveis para ele. Sua força de vontade e inteligência clara nivelaram tudo. Mas sua alegria foi imensa quando finalmente se viu na futura Nova Tróia, ao lado de sua família, já calmo, sem outra preocupação senão se dedicar ao trabalho e ampliar o círculo de suas velhas e boas relações”. [Setembrino E. Peredajan. Garibaldi en el Uruguay: Volumen 1. MONTEVIDEO: Imprenta El Siglo Ilustrado, de Gregorio V. Jariño 338 CALLE SAN JOSÉ 938; 1914. https://play.google.com/books/reader?id=jcDRAAAAMAAJ&pg=GBS.PA2&hl=pt ].


Note-se que  a hipótese de que o gado foi perdido a 300 km de Montevideo, em território uruguaio, aproxima-se melhor da ideia de Paso de los Touros, como lugar de passagem de Garibaldi, embora a extensão de 300 km, metade do suposto percurso total, não seja exata. 

O relato a seguir parece conter um equívoco de princípio, colocando a viagem de Garibaldi, bem mais ao sul do Uruguay, no município de San Carlos , no Departamento de Maldonado. Garibaldi esteve no Porto de Maldonado, em 1837. 

"Pela primeira vez chega ao Uruguai, em Maldonado, no dia 28 de maio de 1837, na Sumaca armada, pelo corsário batizada justamente de Mazzini, carregada de artigos de comércio do Brasil apresados em uma abordagem. Ficou lá até 5 de junho, em oito dias de contínua comemoração, como diz Garibaldi em suas memórias. Mas antes da reclamação do vice-cônsul do Brasil João Manoel da Costa Pereira, do governo Oribe, que não reconheceu a República do Rio Grande, deu ordem para apreender o navio corsário e prender Garibaldi e sua tripulação. O próprio Garibaldi afirma que, felizmente, o chefe político de Maldonado, ao invés de executar a ordem que recebeu secretamente, o alertou sobre seu conteúdo para que ficasse seguro. Na verdade, ele não era o chefe político de Maldonado, mas o prefeito ordinário daquela cidade, José Machado, temporariamente encarregado da polícia departamental". [GARIBALDI EN LA ''TIERRA PURPUREA''. ANISAL BARRIOS PINTOS. GARIBALDINA DE MONTEVIDEO CULTURAL ASSOCIATION. MEMBROS DE HONRA. Ministra da Educação e Cultura Dra. Adela Reta. Embaixador da Itália, Dr. Tomase de Vergottini. GARIBALDI. Diretor. Acad. Prof. Guido Zannier. Editor Responsável: Carlos Novello. Florencia Sánchez, 2724. Montevidéu. URUGUAI.  [http://bibliotecadigital.bibna.gub.uy:8080/jspui/bitstream/123456789/22824/1/garibaldi.pdf ]. 


"Ele está hospedado na casa de Gorlero, localizada na atual rua 18 de Julio, na esquina da Treinta y Tres, onde hoje funciona um instituto terciário; e também com a família Porro, atualmente preservando aquele sobrado com sua varanda original, localizado na rua 18 de Julio, esquina com Ventura Alegre.".[https://bhl.org.uy/index.php/Garibaldi,_Giuseppe ].

"É preciso lembrar que Maldonado tem uma relação muito especial com o general. Foi, aliás, a primeira cidade do Uruguai que o recebeu quando desembarcou em 28 de maio de 1837. Garibaldi, perseguido pelo governo brasileiro, viajava em um cargueiro de café. Aqui se hospedou na famosa casa "Juan (ou Giovanni) Porro", por isso os integrantes do grupo buscam preservar a estrutura reconhecendo-a como patrimônio histórico  do departamento". [https://laciodrom00.wordpress.com/2013/11/13/italiani-in-uruguay-maldonado/ ]. 

"A Revolução dos Farrapos entra em sua fase final e com sua queda iminente, Garibaldi, que já tinha uma recompensa pela cabeça, começou com sua família o caminho para Montevidéu onde havia italianos e ele tinha amigos que podiam garantir sua vida. Em sua passagem por San Carlos teve que consertar as rodas de sua carruagem que fazia em uma ferraria de ancestrais da família García, que continuaram com aquele negócio no que ficou conhecido como "Machango", o apelido de Athos García, cujo ferraria antiga Está intacta e hoje é o Centro Cultural Carolino na Avenida Alvariza". [Busto a Garibaldi. Por Esc. José L. Rapetti Tassano; 17 de novembro de 2014. https://correopuntadeleste.com/busto-a-garibaldi/ ].

"SR. RAPETTI.- Eu já tinha votado, por isso ...

Pertenço à comunidade italiana e sou sócio e diretor do Circolo Italiano de Maldonado, e só quero destacar os valores republicanos de Giuseppe Garibaldi.

Garibaldi foi essa figura, como já o descreveu o prefeito Carlos Flores e compartilho todo o seu conteúdo.

Garibaldi esteve em Maldonado em 1837 e ficou nesta mesma rua, dia 18 de julho, em duas casas, uma em cima e a outra na esquina do Banco de Seguros del Estado, que pertence à família Casella Gaggioni.

Posteriormente, em 1841, a Revolução Farroupilha praticamente derrotada e com sua cabeça a prêmio, Garibaldi optou por fugir para Montevidéu, local onde conheceu gente.

Em sua passagem por San Carlos, Garibaldi tem que consertar as rodas de sua carruagem - él estava com Anita, com seus filhos brasileiros e suas escoltas - e chega à ferraria Garcia, uma antiga ferraria de San Carlos hoje conhecida como “Herrería Machango” , que era o apelido do último da família García, Athos García Tassano, que foi o último ferreiro ali. Hoje aquela ferraria é uma galeria onde funciona o Centro de Cultura da cidade de San Carlos e onde muitos de nós nos reunimos para conversar e colecionar esse tipo de coisa.

Durante sua passagem por San Carlos, foi cuidado pela família García ‒família dos ferreiros‒. Um de seus descendentes, o senhor Fernando García, me emprestou algo que, como podem ver, é um cachimbo Garibaldi, para expor Carlos Flores e o presidente do conselho - se me permite, César Pereyra. à família Carolina e em reconhecimento ao atendimento recebido em San Carlos.

Garibaldi então continuou sua jornada ...

Se puderem ver e - sim, devolvam-me, porque amanhã tenho de reintegrá-lo - foi a promessa a Fernando García - ...

(Hilaridade).

Mas esclareço ao prefeito que quiser ver que posso mostrar com muito prazer.

Possui a figura de Garibaldi esculpida por um artesão italiano. O cachimbo que Garibaldi usava e que mais tarde foi usado pelos Garcias é magnífico.

Digo simplesmente que Garibaldi foi a Montevidéu ensinar Matemática - ou Aritmética , como era chamado na época - porque não tinha mais nada para viver, porque quando o Governo de Defesa posteriormente lhe ofereceu ...". [Sessão regular em 22 de setembro de 2015. Circular nº 37/15.https://www.juntamaldonado.gub.uy/index.php/versiones-2015/1829-set2215.html ].

Mas os relatos precisam de maior estudo.

"A Galeria Machango «Espacio de Arte» está localizada na cidade de San Carlos, distrito de Maldonado, na Avenida J. M. Alvariza 745 esq. 18 de Julio, na Plaza 19 de Abril (originalmente ruas Las Cañas e La Cuchilla com o vértice na Plaza de las Carretas). Ocupa uma antiga ferraria e é um bem de família. No ano de 1847, segundo a documentação que se localizou, uma espécie de campo nos arredores de Villa San Carlos, na região de La Cuchilla (que ainda hoje se chama o mesmo), foi emprestado a Dom Hilario García y Cajiga., por um período de 15 anos, findo o qual, e já liquidado de forma definitiva, foi concedido o título de propriedade. A propriedade mantém seu cadastro original, não a área: sucessões, vendas ou disposições municipais por nova medição de quadras e ruas, ampliando a área urbana, estavam limitando-a à sua área atual de 680 m2. O edifício original funcionou como ferreiro rural e artesanal de abril ou maio de 1849 a dezembro de 1974 ininterruptamente. Na época, e com 125 anos de atividade, era a mais antiga do país. Um detalhe importante é que o imóvel nunca foi comprado ou vendido, permanecendo na família até hoje, 2014, por 167 anos. Seu primeiro proprietário, Hilario García y Cajiga, veio do País Basco, da Villa Castro de Urdiales ―local dos altos-fornos de fundição―, daí herdou seu filho Victor García de Liendo, dele passou a seu filho mais velho Athos García Tassano e desta à atual proprietária María del Pilar García Silveira, na esperança de que as próximas manchetes sejam seus filhos ou netos. O nome "Machango" vem da alcunha com que era conhecido o último mestre ferreiro, Athos. O nome verdadeiro da empresa registrada no escritório do trabalho de sua época é «Herrería Vulcano». Em 1982 a estrutura do edifício foi restaurada ao seu estado atual pelos arquitetos Roberto Chiachio, Sergio Veliovich e Antonio Mendina, mantendo-se 90% original (pisos, vãos, paredes assentadas em barro). Ferramentas como o guincho de malha, morsa em pé, forja, bancada de trabalho e a bigorna de 120 k. Atualmente os livros e cartas com informações sobre o trabalho e os materiais utilizados na época, nos ilustram sobre o intercâmbio permanente mantido com parentes na Espanha".[https://pdfslide.tips/documents/resena-familiardocx.html ].

Como se vê, os historiadores de Garibaldi ainda tem um bom trabalho pela frente.

Por outro lado, a um oficio do Ministro da Fazenda dos farrapos, Almeida, sugere que as mil reses eram para pagamento de dívida do Tesouro republicano. [Giuseppe Garibaldi. Moacyr Flores. In Flores, Hilda Agnes Hübner. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2003, p. 72]. Dessa maneira, Garibaldi, em terras uruguaias, estaria ainda a serviço dos farrapos. 

Os vaqueanos

Aparentemente, os vaqueanos da época, eram sinônimos de nativos da região que envolvia São Borja até Montevideo.

O domínio das tolderías sobre o campo também é evidente na falta de familiaridade de Ximénez e do cabildo de Montevidéu com a geografia do interior. Ximénez confiou em Francisco de Borja, um Guenoa, para servir de guia (baqueano), enquanto a milícia de Montevidéu perdeu o controle das tolderías assim que se retiraram das muralhas de sua cidade. [Quase todas as incursões de espanhóis, portugueses e missionários no interior da região dependiam de baqueanos]. Em contraste, os Minuanes e Guenoas envolvidos neste conflito sabiam onde localizar Montevidéu e a missão San Borja. Ainda assim, apesar de seu relativo domínio sobre o espaço rural, as tolderías não conseguiram monopolizar o acesso e estavam perfeitamente cientes de suas próprias limitações. Também era do seu interesse buscar a paz com seus homólogos sedentários, de modo a evitar os custos da guerra, proteger as parcerias comerciais e manter aliados potenciais em um mundo multipolar. Por isso, os caciques que se encontraram com Ximénez e Borja procuraram convencer Yapelman a acabar com o bloqueio. (p. 39). (…) O punhado de elites letradas que comandava os partidos representavam apenas uma pequena fração da força de trabalho total. Uma análise mais detalhada dos livros de contabilidade das expedições revela um grande corpo de atores americanos que ocupou quase três quartos dos cargos assalariados.

[Ver, por exemplo: AGNA - XIII. 15-4-4; AGNA - XIII. 15-4-5; AGNA - XIII. 15-4-6; AGNA - XIII. 15-5-1; AGNA - XIII. 15-5-2; IHGB - Conselho Ultramarino, Arq. 1.1.1, f. 107. Muitos desses trabalhadores eram das missões Guarani. Sarreal, O Guaraní e suas missões, 152.].

Da mesma forma, uma leitura detalhada dos diários do dia-a-dia escritos por oficiais em comando demonstra que os agentes locais realizaram a grande maioria do trabalho das expedições e serviram como principais fontes de informação. Enquanto as autoridades debatiam os termos do tratado e os geógrafos mediam os cursos dos rios ou traçavam os topos das montanhas, os guias locais (baqueanos) corrigiam erros no “Mapa das Cortes” e em outros mapas que as equipes de demarcação carregavam. [BNB - 09.3.012, f. 35-6; ANB - 86. Secretário de Estado, cód. 104, v. 11, f. 37-37v. Os oficiais da demarcação também carregavam mapas desenhados por jesuítas e outros geógrafos, e as subdivisões de San Ildefonso carregavam os mapas e diários produzidos pelas demarcações de Madri. ANB - D9. Vice-Reinado, caixa 494, pac. 1, f. 2-3v; IHGB - Conselho Ultramarino, Arq. 1.3.7, f. 239-239v; ANB - 86. Secretário de Estado, cód. 104, v. 9, 153-153v; BNB - I-28,28,18, f. 12v-13; BNB - 04,4.003, f. 12v-13; BNB - 5,4,035; IHGB - Conselho Ultramarino, Arq. 1.2.1, f. 30-30v. Apesar do número de mapas que carregavam, eles ainda tendiam a confiar em guias para obter informações. Por exemplo: BNB - 05,4.003. ]. Além disso, exércitos de trabalhadores carregavam baús de livros e instrumentos, construíam e navegavam em barcos, abriam trilhas para os picos locais e montavam acampamentos móveis. Alguns abriam caminho por campos e florestas, enquanto outros administravam e mantinham carrinhos pesados ​​cheios de alimentos, ferramentas ou os grandes marcadores de mármore que erigiriam mais tarde para sinalizar os limites. Outros ainda cuidavam das cerca de cem cabeças de gado que viajavam com as equipes, em busca de pastagens para pastar e racionando sua carne. Por último, deram segurança aos oficiais de demarcação, pois tropas de guardas armados caminhavam ou cavalgavam ao lado dos demais. Esses indivíduos, em grande parte não identificados, até salvaram a vida de oficiais de demarcação, como ocorreu em 1785, quando uma equipe de nadadores resgatou um capitão português que estava se afogando. [BNB - 09,4,14, f. 80v-83v. ](P. 148-149). 4



CHEVESTE, Andrés.- Integrante del heroico grupo de los «Treinta y Tres Orientales» (Ver Treinta y Tres), que al mando de Lavalleja, desembarcaron en la playa de la Agraciada (Ver Agraciada) el 19 de abril de 1825 (Ver Diecinueve de Abril), dando así comienzo a la «Cruzada Libertadora» (1825-28), contra la dominación imperial brasileña. En varias de las nóminas publicadas, aparece Cheveste como «baqueano» de la expedición, vale decir, conocedor de la campaña, en sus más variados aspectos (pasos, «picadas», atajos, pastos, «aguadas», etc.) por lo que puede hacerse más factible una difícil travesía. En los relatos de la Cruzada hecho por algunos de sus actores, figura Cheveste realizando riesgosos cometidos, acordes con su condición de «baqueano». (…)

GAUCHOS.- «Hombre del campo, "baqueano", diestro en el manejo del caballo, del "lazo", de las "boleadoras", de la daga y de la lanza, esforzado, altanero y amigo de aventuras». (D. Granada). «El campesino uruguayo, el gaucho propiamente dicho, educó su temperamento en los mismos obstáculos de la naturaleza ofrecidos abundantemente. «En sus orígenes, las prácticas, los hábitos, fueron los que usaran los indios, con quienes convivieron. Como ellos, montaban a caballo, y eran diestrísimos en su manejo, por una larga práctica efectuada desde los primeros años de su niñez. ...«Cuando el país comenzó a poblarse y se organizaron las estancias, el gauchaje concurrió a esos establecimientos participando en las tareas del campo. ...«Un sentimiento principal guió tan sólo su espíritu, y fue: el amor acendrado hacia el suelo en que nació y vivió, sentimiento confundido para él con la idea de una patria libre de cualquier dominación. Tal idiosincrasia explica ampliamente la rapidez y uniformidad de la sublevación del paisanaje uruguayo después de 1810, y su tesón indomable en las ardorosas y prolongadas luchas contra los españoles, porteños, portugueses y brasileños. ...«El gaucho del siglo XVIII, o de las primeras décadas del siglo XIX, tal como se exhibió em la campaña oriental, representó un tipo absolutamente autóctono y originario, legítimo, de su ambiente, sin que sea permitida su confusión con el campesino del litoral o del centro argentino, o del paulista o mameluco brasileño, de quienes lo separaron diferencias esenciales. «Especialmente con los primeros, el gaucho oriental es anterior en su formación como producto social, y la denominación genérica de "gauchos", aplicada después a todos los campesinos del Río de la Plata y del interior argentino, derivó de aquellos "gauderios" de Maldonado y del Río Negro, descriptos por Bougainville, Concolorcorvo, Azara y Lastarria». (P. Blanco Acevedo). Acerca de la etimología de la palabra «gaucho», así como del origen del próprio «gaucho», su carácter, sus hábitos, vivienda, armas, prendas, diversiones, tipos, etc., existe una abundante bibliografía en ambas márgenes del Plata.5





Garibaldi em São Gabriel

O mês de chegada de Garibaldi em São Gabriel, é em março, no final do verão. No final de abril, começaram a viagem, que durou cinquenta dias, calculada, supostamente, em 650 quilômetros. Ao que parece, a passagem do Rio Negro, tão marcante, foi em pleno Uruguai, no interior.


A pedido, o presidente Bento Gonçalves dispensou Garibaldi de suas funções e ele então mudou-se para Montevidéu, no Uruguai, com Anita e seu filho Menotti Garibaldi, nascido em Mostardas, no litoral sul do estado do Rio Grande do Sul. Recebeu um rebanho de 900 cabeças de gado, das quais, depois de 600 quilômetros de marcha, 300 chegaram a Montevidéu, em junho de 1841.[SCIROCCO, Alfonso (2009). Garibaldi. Battaglie, amori, ideali di un cittadino del mondo. [S.l.]: Editori Laterza. ISBN 978-88-420-8408-2 (em italiano)]6



Giunto a São Gabriel, strinse amicizia con Francesco Anzani. Gli venne concesso di recarsi a Montevideo e di portarsi 1 000 buoi come bottino di conquista; riuscì a farne partire 900, ma negli oltre 600 km che percorse perse la maggior parte dei capi, solo 300 infatti giunsero a destinazione nel giugno del 1841 a causa dei ripetuti furti dei mandriani infedeli. [Alfonso Scirocco, Garibaldi. Battaglie, amori, ideali di un cittadino del mondo, Editori Laterza, 2009, ISBN 978-88-420-8408-2].7



Em 1841, Garibaldi e Anita mudaram-se para Montevidéu , Uruguai , onde Garibaldi trabalhou como comerciante e mestre-escola. O casal se casou em Montevidéu no ano seguinte. Eles tiveram quatro filhos; Domenico Menotti (1840–1903), Rosa (1843–1945), Teresa Teresita (1845–1903) e Ricciotti (1847–1924). [Kleis, SM (2012). "Der Löwe von Caprera". Damals (em alemão). No. 6. pp. 57–59] Uma hábil amazona, Anita é dita [ por quem? ] ter ensinado Giuseppe sobre a cultura gaúcha do sul do Brasil e do Uruguai. Por volta dessa época, ele adotou suas roupas características - a camisa vermelha, o poncho e o sombrero comumente usados ​​pelos gaúchos.8



Em 1841 foi para o Uruguai, onde ocorreu a guerra entre os brancos de Manuel Oribe, apoiado pelo governo de Buenos Aires do governador Juan Manuel de Rosas, e pelo governo do Colorado de Fructuoso Rivera instalado em Montevidéu. Declarada em dezembro de 1838, a chamada Grande Guerra decorreu de 1838 a 1851. O governo Oribe estava na periferia de Montevidéu, no bairro que hoje se chama La Unión, esperando o momento certo e oportuno para tomar a cidade. Em Montevidéu está o Museu Casa José Garibaldi, instalado na casa onde ele e sua família viviam naquela época. Enquanto isso, Garibaldi, radicado em Montevidéu, além de sua atividade revolucionária, deu aulas de matemática e ingressou na Loja Maçônica Les Amis de la Patrie.9



Em meados de 1841, não vendo uma rápida conclusão da guerra, e a pedido de Francesco Anzani, exilado lombardo de quem faz amizade e que deseja sua presença no Uruguai, Garibaldi e sua família, partem, com a autorização de Gonçalves, o Rio Grande para Montevidéu [Scirocco 2011, p. 73] onde há muitos estrangeiros, principalmente franceses e italianos [ Scirocco 2011, p. 83]. Lá, a guerra se opõe ao presidente uruguaio Manuel Oribe, sendo derrubado, mas é apoiado pelo governo de Buenos Aires de Juan Manuel de Rosas, e ao novo governo presidido pelo general Fructuoso Rivera instalado em Montevidéu e que conta com o apoio do Brasil, Frotas francesas e inglesas, e argentinos “unitários” (Partido Unitario, de tendência liberal). Declarado em dezembro de 1838, a guerra conhecida como Grande Guerra dura de 1839 a 1851 [ Scirocco 2011, p. 86]. Com sede em Montevidéu, Garibaldi ministra aulas de matemática [Scirocco 2011, p. 86 10 .



Em 1841 eles se retiraram para Montevidéu e se casaram lá em 26 de março de 1842. Garibaldi superou o tempo como comerciante e mestre-escola.11




A grande retirada Mapa de Tasso Fragoso. https://cultura-admin.rs.gov.br/upload/arquivos/carga20210403/08160302-caderno-de-anita.pdf




https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiX3Xz_2uE_sm_4_-Qac1DyQZY4BORtAzDuHqLKLOyLwSgiHH9SwMu22nGdPPMptR7FliCL8xK4hcRSAvqt0ztwtdw6muA4P9oHfy2Wr_uerXPLH30nX1nsGf8S02MtFS0d1m8ME8d9KGPs/w1200-h630-p-k-no-nu/mapa_revfarroupilha.jpg



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A grande retirada pelos Campos de Cima da Serra


A grande retirada pelos Campos de Cima da Serra. No começo de 1841, em pleno verão rio-grandense, o Exército Republicano viaja para o norte. Anita, Garibaldi e o filho Menotti seguem com os farrapos. Os sofrimentos são indescritíveis: a fome, o inimigo, o calor do dia no meio da floresta tropical, o frio á noite, os mosquitos, as feras. Garibaldi chega ao ponto de improvisar, com um lenço no pescoço, uma tipoia para carregar o filho. Anita quase não tem leite para amamentar Menotti. Mesmo nessas condições, conseguem atingir o Planalto da Vacaria e, depois, seguem para o oeste. Passam por Mato Castelhano e alcançam Passo Fundo e Cruz Alta. Em 15 de março do mesmo ano, Giuseppe e Anita estão em São Gabriel, onde permanecem por algum tempo no novo acampamento farroupilha, sede da então República Rio-Grandense. Nessa grande retirada pelos Campos de Cima da Serra, com Garibaldi e os Farrapos, Anita sobreviverá, ela e Menotti, graças também, à sua habilidade como cavalariana. 12



Aqueles funestos dias seriam lembrados para sempre na memória de quem lá esteve. Garibaldi os registrou em suas Memórias. Anita detalhou em carta enviada ao casal Costa, em São Simão, os terríveis momentos e as deprimentes cenas que foi vítima e testemunhou: "Ao casal Costa. São Gabriel, 10 de março de 1841:

Caros amigos, depois das penosas aventuras por que passamos, parece um sonho viver de novo numa casa confortável e poder escrever com calma esta carta que, graças à cortesia do nosso novo amigo Francesco Anzani, espero que chegue até vocês em pouco tempo. Imaginem que Francesco ainda tem paciência para me ensinar ortografia, e eu estudo durante as longas horas de ócio que frequentemente passamos juntos no conforto dos nossos quartéis de São Gabriel. Estamos todos, sãos e salvos, mas só por milagre Quando nos despedimos... estávamos bem e com saúde, encorajados com a provisão de alimentos que vocês nos quiseram dar e pelos seus votos de boa sorte. Mas logo a viagem se tomou penosa, devido às chuvas incessantes. Nunca tomei tanta chuva em toda a minha vida alcançamos as tropas dos farrapos e iniciamos com eles a caminhada em direção das alturas A coluna de companheiros parecia estender-se até o infinito Ministros, parlamentares, funcionários, empregados, artesãos e pobretões, todos fugitivos, com suas famílias e coisas, animais, provisões, armas, munições e até mesmo máquinas para imprimir jornais. Vocês não imaginam o sofrimento de todos; devido ao terreno totalmente intransitável, era preciso cortar a vegetação densa, metro por metro, a chuva incessante ensopava nossas roupas, os pés gelados escorregavam na lama, de noite tremíamos de frio e nos apertávamos uns contra os outros, como animais, para conseguir um pouco de calor.... As reservas de alimentos logo se esgotaram e a caça começou a rarear. Não conseguíamos mais acender fogo, pois a madeira estava toda úmida. Para tornar aceitável algum raro pedaço de carne, nós o colocávamos na garupa do cavalo, sob a cela, até ele cozinhar um pouco com o calor do animal. Após atravessar o vale do rio das Antas, começamos a subida. O sofrimento aumentou, devido ao terreno íngreme e da falta de alimento. Todos sofreram, especialmente as crianças e as mulheres, que, depois de algum tempo, não conseguiam prosseguir. A caminhada era muito difícil e as crianças caíam exaustas. As mães, não querendo largá-las, abatiam-se com elas, apesar de saberem que não teriam como se salvar. Às vezes os homens sem coragem de separar-se dos seus ficavam com eles ou então os matavam, para não entregá-los a uma lenta agonia. Com um reflexo de horror nos olhos, continuavam a caminhada cada vez mais devagar, conscientes de que logo também cairiam exaustos na lama e seriam cobertos pela densa vegetação. Penso que por muito tempo será possível reconstituir a nossa trajetória pela fila de esqueletos que marcam o caminho. Com certeza nossas perdas foram mais graves do que aquelas que sofremos nas muitas batalhas de que participei. Durante a subida, eu procurava frutas e raízes para comer, qualquer coisa que me pudesse alimentar, porque meu leite estava diminuindo e Menotti, sob o poncho que o prendia ao meu colo, quase já não tinha forças para chorar. Seus gemidos tornavam-se cada vez mais fracos, a carinha pálida se enrugava, estava sujo, trêmulo e a única coisa que eu podia fazer era soprar por cima dele para lhe dar um pouco de calor. Eu usava folhas e alguns trapos que restavam para conservá-lo o mais enxuto possível. Nas raras paradas eu lhe dava de mamar. Muitas vezes vi, com dor no coração, alguma outra mulher tirar seu bebê do meio das roupas e encontrá-lo morto. Imaginem minha apreensão... Pela primeira vez senti minhas forças diminuírem e me cansava até por carregar o peso do menino, que afinal só tinha algumas semanas de vida. Fiquei grata a José, que, voltando-se para ver se eu o estava seguindo, percebeu a minha angústia e quis carregar Menotti, agasalhando-o embaixo do poncho e conservando-o quente com seu bafo por algum tempo Quando mais uma vez a aurora chegou à serra com a sua luz pálida, ele veio até mim. Eu estava deitada, encostada a uma rocha, tentando me proteger do frio de algum jeito. José estava acompanhado de um soldado e trazia duas mulas. Disse para eu partir imediatamente e pôr nosso filho a salvo do outro lado da montanha. Ele me olhava com aquele jeito de quem não admitia discussão e acrescentou que aquela era a única esperança para Menotti. Devolveu-me o menino após beijá-lo carinhosamente. Então me abraçou e me empurrou na direção das mulas, evitando o meu olhar. Ele não quer me mostrar o quanto essa decisão está lhe custando, pensei.

É claro que eu estava sem forças para resistir. Peguei o Menotti, reduzido a um pacotinho, e parti com o soldado, que puxava as mulas com muito esforço, tropeçando nas pedras e nos arbustos que abundavam na vegetação virgem da serra. Eu continuava com a impressão de estar escalando o infinito. À noite, deitamos no chão, amontoados sobre os animais exaustos. Às vezes, parecia que eu tinha lâminas fincadas na cabeça, e eu procurava segurar o enjoo que tomava conta de mim no ar rarefeito da montanha. Na tarde seguinte, quando eu já estava pensando que se caísse mais uma vez não teria forças para me levantar, notei que o terreno se tornava menos íngreme.

Então pude montar em uma mula, e fui revezando, montando ora em uma, ora em outra, para elas não desabarem de exaustão.

Passamos mais uma noite quase sem dormir, torturados pela fome. Menotti ainda respirava, mas, quando eu tentava dar-lhe de mamar, mal o sentia sugar.

No dia seguinte, enquanto nos arrastávamos mecanicamente, passo a passo, de repente percebi que o terreno formava um suave declive.

Olhei ao redor e não consegui acreditar: a floresta tinha quase acabado e à nossa frente, estendiam-se colinas e campos cultivados a perder de vista.

Caminhamos então em direção a uma fumaça que apareceu ao longe, e finalmente chegamos a um acampamento, onde alguns soldados estavam deitados ao redor de uma fogueira, bebendo de seus cantis. Assim que nos viram, amontoaram-se ao nosso redor para saber quem éramos;

pegaram o Menotti, já quase morto, deram-lhe um banho, envolveram-no em roupinhas limpas e lhe deram leite, gota a gota. Eu também bebi leite de uma tigela fumegante, e aquela me pareceu a bebida mais fina do mundo. Enfim, caros amigos, estávamos salvos… Poucos dias depois, o único vestígio do pesadelo eram os meus pés que continuavam sangrando. Ainda tive que mantê-los enfaixados por muito tempo Anita Ribeiro Garibaldi". (63) 13

Assim, tiveram que cruzar diversos rios, sendo mais dificultosas as travessias dos rios Gravatai, Cai e Antas, que avolumados pelas intensas chuvas, impuseram ainda maiores dificuldades. Quase quarenta anos mais tarde, por onde serpenteia o Rio das Antas, quando se iniciou a colonização italiana naquelas íngremes montanhas, os feitos desta descomunal travessia seriam lembrados e homenageados seus protagonistas com nomes dos povoados que ali fundaram e hoje são florescentes cidades do Rio Grande do Sul: Farroupilha, Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Garibaldi, David Canabarro e outras. ANITA E OS REPUBLICANOS CHEGARAM A SÃO GABRIEL.

Após passar por Passo Fundo e Santa Maria, a expedição chegou em São Gabriel em meados de março, onde foram construídos e improvisados diversos barracões para abrigo das tropas, o próprio Garibaldi, com auxílio de alguns de seus marinheiros construiu uma cabana, para nela abrigar sua famigliola, a quem passou a dedicar maior atenção, pois haviam apenas exercícios militares de adestramento das tropas, sem qualquer confronto com os inimigos nas cercanias. Assim decorreram semanas, onde nada se decidia. A ociosidade fez com que refletisse profundamente sobre a conversa que teve em seu último encontro com Luighi Rossetti. De fato, alistara-se na República Riograndense para servir como marinheiro, para lutar e comandar navios, mas como a República exauriu suas possibilidades de possuir os portos de Laguna e de Rio Grande, que mais um experiente marinheiro podia fazer em terra firme? Os chefes farroupilhas, passavam por um período de desentendimentos internos, com muitas acusações e intrigas, de cujas discussões Garibaldi esquivava-se, sem tomar nenhum partido. É bem verdade que nas hostes imperiais estava sucedendo o mesmo, mas o fato, deduziu Garibaldi, é que a guerra havia exaurido até os mais graduados oficiais, de lado a lado. E Anita, e seu filho, que futuro poderia oferecer-lhes lutando como nômade, por um ideal agora difícil de ser tangido? É bem verdade que até o momento não havia recebido nenhuma paga, e tampouco solicitou nenhum soldo pelos serviços até então prestados, afinal, não era por este motivo que lutava, mas sim pela glória dos ideais mazzinianos e republicanos. Havia anos que não recebia notícias de seus pais. Anita registrou em suas cartas, que neste período Giuseppe Garibaldi falava frequentemente sobre eles e os demais familiares, numa clara demonstração de saudades de sua família e de sua terra natal. Nele Anita percebeu, fermentava o desejo de novas ações. A inatividade o angustiava. Mas deveriam ser ações concretas, com objetivos possíveis de serem concretizados. Afinal, se Rossetti tinha razão, porque continuar a permitir que a consciência lhe acusasse por continuar a lutar pela causa que não chegaria a bom termo?

ANITA MELHOROU SEUS CONHECIMENTOS.

Em S. Gabriel, através de mensageiros e de conterrâneos italianos oriundos de Montevidéu, Garibaldi recebeu diversas notícias sobre seus familiares e sobre a situação política pelo movimento da Jovem Itália, em que havia militado, defendendo a unificação italiana. Também informou-se mais a respeito da Guerra pela independência do Uruguai, que naquele momento lhe estava negando a Argentina. Permitiu-lhes esta longa pausa das atividades militares, que na improvisada residência, aconteceram longas conversas, com alguns de seus patrícios, que oriundos de Montevidéu, além de notícias, traziam para discussão os mais variados assuntos, mas principalmente, sobre o ideal mazziniano de autonomia e do direito dos povos autodeterminarem-se. Quase dois anos de convivência com Garibaldi deram a Anita inúmeras oportunidades de aprofundar seus conhecimentos. Neste período, teve oportunidade de ouvir e participar das rodas de discussões importantes, que iam das estratégias militares às questões ideológicas que sustentaram o ideal republicano. Aos toscos ensinamentos de seu tio Antônio, que lhe despertou em Laguna sua revolta contra as tiranias, os centralismos, e sua vocação libertária em favor dos oprimidos, Anita teve inúmeras oportunidades de agregar mais conhecimentos, um pouco mais aprofundados, com embasamento mais consistente, em favor da descentralização do poder, das igualdades sociais e em defesa dos direitos das mulheres. Quando chegaram a S. Gabriel, Anita já dominava e entendia a língua italiana. Com a proximidade do Uruguai, e através dos mensageiros que de lá chegaram, teve os primeiros contatos com a língua espanhola. A ociosidade bélica de Garibaldi durante o tempo passado em S. Gabriel, foi pródiga em ensinamentos para Anita.

GARIBALDI, ANITA E MENOTTI PARTIRAM PARA O URUGUAI LEVANDO 900 BOIS Em fins de abril de 1841, após diversas semanas de inatividade militar, resolveu, então, pedir dispensa do Exército republicano, pois pretendia retomar as suas atividades embarcado, ou quando muito, fixar-se junto a um Porto, onde poderia conviver com o mar, a sua grande paixão de navegador. Anita não obstou, porque a intenção de Garibaldi não era a abandonar definitivamente a causa republicana. A ida para Montevidéu seria temporária, disse-lhe. Assim decidido, procurou o General Bento Gonçalves e expôs-lhe todas as suas angústias, dúvidas e incertezas. Deste encontro não existem registros oficiais, havendo historiadores que afirmam ter Garibaldi argumentado a Bento Gonçalves que Montevidéu poderia ser uma alternativa para as ligações marítimas da República Riograndense. A maioria, porém, defende a tese de que Garibaldi não partiu para Montevidéu com estas intenções. O que importa, porém, é que desta confabulação, que não teve testemunhas e que durou quase duas horas, ficou definido que Garibaldi partiria com sua mulher e filho, sendo-lhe entregue uma manada de novecentos bois, que deveriam servir para as despesas de manutenção da família, durante os primeiros tempos.

Estava encerrada a participação de Anita e de seu companheiro Giuseppe Garibaldi na Revolução Farroupilha, que continuou por mais quatro anos, terminando apenas em fevereiro de 1845. Iniciada em 1835, durou dez longos anos. Para a paz chegar, cederam ambas as partes, celebrando o Tratado do Poncho Verde. Os farroupilhas depuseram as armas e o Governo Imperial concedeu anistia aos revoltosos farroupilhas, tendo seus oficiais e praças sido incorporados ao exército e mantidas suas patentes. Também as dívidas e os compromissos do Governo Farroupilha foram assumidas pelo Império. Em 1845 a paz foi selada e o Brasil manteve sua unidade territorial.

A viagem para o Uruguai durou exatos cinquenta dias, transformando o casal em tropeiros de bois. O que inicialmente pareceu-lhes uma fácil empreitada, foi, na verdade, um desastre, pois a boiada, quase toda formada por gado alçado, deu-lhes muitos transtornos. As enormes planícies da região sul do Rio Grande do Sul e do Uruguai contribuíram para a viagem, mas, em simultâneo, dificultaram, pois, sendo composta a boiada de gado xucro, não raro aconteceram perdas de animais que se afastaram da manada e desapareceram pelos campos afora. As diversas travessias de rios causaram a perda de boa parte da boiada. Foi o que aconteceu, principalmente, no cruzamento do Rio Negro, onde perderam cerca de quatrocentas cabeças de gado. A perda destes animais todos se deveu a diversos fatores, mas o principal foi o pouco interesse com que se portaram os quatro peões contratados para auxiliar Garibaldi e Anita nesta difícil tarefa. Sabendo que o casal não retornaria, sentiram a oportunidade de locupletarem-se, fazendo vendas de algumas cabeças pelo caminho a fazendeiros da região. Já em território uruguaio, estando o gado bastante abatido e magro pela longa tropeada, e alegando que muitos ainda morreriam pelo caminho, os peões induziram o casal a acreditar que seria melhor abater o restante da manada, abandonar sua carne e levar tão somente o couro para ser vendido no Uruguai. Convencido de que esta seria a melhor solução, assim procederam. Outra parte do rebanho foi entregue aos peões em pagamento de seus serviços. Após o abate do rebanho remanescente, Garibaldi e Anita seguiram a viagem, sozinhos. Anita, levando seu pequeno Menotti ora a cavalo, ora no único carro de boi que os acompanhou, suportou 50 dias da fadigosa viagem. Chegaram a Montevidéu com apenas trezentos couros de sua manada inicial de novecentos cabeças.

CAPÍTULO XIV - ANITA NO URUGUAI O URUGUAI LUTAVA POR SUA REPÚBLICA

A chegada da pequena família em Montevidéu foi registrada pela polícia local na data de 17 de junho de 1841. Fizera 650 quilômetros em 50 dias de viagem. Montevidéu era considerada uma emergente metrópole sul-americana, que contava na época com cerca de 40.000 habitantes. Embora fosse uma cidade em desenvolvimento e prosperidade, ali fermentava uma guerra civil, pela emancipação política e administrativa do Uruguai. A independência já havia sido reconhecida pelo Império Brasileiro, mas o país estava dividido em duas correntes, que se digladiavam: uma liderada pelo general Oribe, que tinha o apoio do ditador argentino Rosas, que pretendia deter a hegemonia do estuário da Bacia do Prata. Era arredio a qualquer inovação ou transformação, não aceitando nenhuma categoria de ingerência europeia. A outra corrente era liderada pelo General Frutuoso Rivera, que havia sido eleito presidente do Uruguai, que detinha o domínio e o governo em Montevidéu. Liderava os liberais unitários, que lutavam pela pura e simples independência, sem qualquer subordinação a Argentina, mas aceitavam abrir seus portos e mercados aos produtos europeus. Como pano de fundo, estavam em jogo os interesses mercantis das potências europeias, como a França e a Inglaterra, que protegiam seus interesses contra uma possível hegemonia da conservadora Argentina na navegação na Bacia do Prata. Neste conflito, houve forte presença das grandes lojas maçônicas e da imprensa internacional, atentos aos interesses europeus no grande mercado americano, que somente podia ser tingido pela navegação nos rios platinos. O Estuário do Prata era o principal palco dos confrontos. Mas as batalhas também desenrolaram-se em terra, sendo vasta a região belicosa. A força naval de Montevidéu era comanda por um americano, Johan Kay e a marinha argentina pelo almirante ingles William Brow Garibaldi havia enviado mensageiros, comunicando sua disposição de mudar-se para Montevidéu. Assim, alguns carbonários italianos ali refugiados, já o aguardavam com ansiedade. Os heroicos gestos de bravura e de valentia de sua companheira Anita já eram relativamente conhecidas, principalmente pela comunidade italiana sediada no Uruguai, de quem tiveram notícia sobre sua forte e marcante personalidade. Ao chegarem, nos primeiros tempos foram hóspedes em casa de Napoleone Castellini. Em Montevidéu estavam refugiados e abrigados centenas de militantes e pensadores do movimento carbonário, defensores da unidade italiana e da causa de emancipação dos povos oprimidos pelos regimes despóticos e discricionários. Giovanni Batista Cuneo, um jornalista e pensador mazziniano, que havia sido um grande amigo de Luighi Rossetti, foi um dos que incentivou a vinda de Garibaldi para Montevidéu. Segundo registrado por muitos pesquisadores, o movimento maçônico havia incumbido Cuneo para auxiliar a emoldurar jornalisticamente os feitos de Garibaldi, mostrando como um possível líder para a futura campanha de unificação italiana. A ideia era preparar Garibaldi, enquanto na América, para projetar sua liderança na Itália. Em meio a comunidade italiana, foram recepcionados como heróis da epopeia riograndense. Suas áureas e famas já brilhavam, sendo respeitados e admirados, principalmente em relação a Garibaldi. Em relação à Anita, as histórias corriam de boca em boca, enaltecendo seu destemor e coragem em combate, o que era fato inusitado, por tratar-se de uma mulher. Garibaldi, por seu turno, era reconhecido como grande estrategista militar naval, cuja fama lá chegou pelas notícias trazidas por alguns jornais que noticiavam os confrontos do vizinho Rio Grande do Sul, narrando as batalhas navais travadas em defesa do movimento republicano em mares brasileiros, principalmente nas cidades de Imbituba e Laguna. Sua audácia naval, como, por exemplo, o transporte de dois lanchões por terra, fugindo do bloqueio da Lagoa dos Patos e atacando Laguna, associados a sua incrível coragem de arremeter-se com pequenas embarcações contra grandes e mais bem equipados navios brasileiros, já o haviam tornado célebre, o que atraiu a atenção de Johan Kay, um americano que comandava a Marinha Naval uruguaia. Acolhido pela fraternidade maçônica, empenhada que estava na total independência da República do Uruguai, após algum tempo da chegada, dedicou-se Garibaldi a atividade econômica, já que necessitou prover o sustento de sua família. Foi lecionar história, caligrafia e matemática em um colégio particular, pertencente ao seu conterrâneo, Paulo Semedei. Com o emprego de professor, e julgando necessário viverem sem a dependência dos amigos, o casal mudou-se para uma casa que foi alugada nas proximidades do Porto, hoje conhecida como rua 25 de maio. Posteriormente, a residência foi transformada em museu, que até hoje existe. A residência, embora fosse uma antiga construção, oferecia razoável conforto, pois era de alvenaria e relativamente ampla. Esta foi a primeira e única casa em que Anita teve estabilidade. Ali teve mais três filhos, fixando-se por um período de cerca de sete anos, conforme veremos na sequência desta obra. A intrépida guerreira, agora novamente grávida de seu segundo filho, sentiu-se distante do ideal republicano de seu Tio Antônio, mas consolou-a o fato de continuar a lutar pela causa republicana. Assimilou rapidamente que tinha doravante um filho e uma casa para cuidar, enquanto seu marido providenciava seu sustento. A atividade de professor, entretanto, não dava ao casal os rendimentos necessários para manter sua família com dignidade. Sentindo ser necessário ir além de suas simples funções como mãe e dona de casa, Anita passou a fazer pequenos e simples trabalhos para vizinhas, como costureira, forma encontrada para ajudar no orçamento doméstico. A atividade foi exercida sem o conhecimento de Garibaldi, que ao saber, sentiu-se ferido em seu orgulho próprio, a proibiu terminantemente de continuar com a atividade. Resignada, Anita aceitou a proibição imposta, mas não o perdoou pela violação de um dos princípios que tanto defendia, ou seja, o de igualdade entre homens e mulheres. Em carta que em novembro de 1841 endereçou a sua irmã, queixou-se: "... quando José ficou sabendo, ficou louco da vida e saiu de casa batendo a porta. Assim, caíram por terra as suas belas teorias francesas sobre a igualdade entre os homens e as mulheres, de que ele fala com tanto gosto... a mulher é a companheira de luta, de cama e de trabalho, com liberdade e respeito recíproco... (64)14 Garibaldi, que estava sendo auxiliado pela solidariedade da loja maçônica francesa "Amis de la Patrie", compreendeu que sua sensata companheira Anita assim procedia porque seus rendimentos como professor eram insuficientes para dar-lhes de sustento. Procurou, então mais uma atividade, conseguindo exercer a função de contador e corretor de cargas dos navios que aportavam próximo a sua residência. Era uma atividade bem mais próxima daquela que pensava exercer, que pelo menos o deixava informado sobre as notícias que vinham pelo mar. 15



A contratação de quatro vaqueanos, sugere que o caminho tomado não era conhecido por Garibaldi. Em suas Memórias, Garibaldi revela o medo que a população tinha dos habitantes originais, um dos motivos da liquidação dos nativos da região.


Em fins de abril de 1841, Garibaldi pede dispensa ao general Bento Gonçalves do exército republicano, que aceita o pedido meio contrariado, mas como não poderia mantê-lo, porque nem ele próprio tinha prognósticos do futuro, ou se a Revolução ainda continuaria. Bento sabia que o sistema financeiro republicano se encontrava a zero, não podia pagar em dinheiro pelos serviços prestados daquele valoroso capitão, promete dar novecentos bois como forma de pagamento. No momento, Garibaldi julga ser o necessário para recomeçar, decide aceitar. 70 - Garibaldi, Anita e Menotti Partem para Montevidéu com Novecentos Bois.

Abril de 1841, Garibaldi, Anita, o filho Menotti e os quatros vaqueanos contratados partem rumo a Montevidéu. Há principio lhe parecia uma tarefa fácil, mas a realidade foi outra. Pois, a maioria era gado indomável, acaba se perdendo nos campos afora ou se embrenham na mata fechada. A travessia dos rios lhe causa a perda de uma boa parte do gado, especialmente a travessia do Rio Negro, onde perdem quase quatrocentas cabeças de gado. Quando eles se encontravam próximos do Uruguai, Garibaldi e os vaqueanos abatem o restante dos bois, deixam a carne aos urubus e outros animais, dando-os uma parte do couro como forma de pagamento. A partir desse momento, a família Garibaldi continua sozinha o caminho... O caminho da paz... Ou caminho de uma nova guerra. 16



Garibaldi seria a testemunha perfeita para o efeito de veracidade à narração, já que ele foi o companheiro de Anita e o seu relato é considerado, no livro, como algo inquestionável. O narrador se aproveita dessa estratégia para reforçar a cada instante que a sua narrativa provém de suas conversas com o herói italiano, como se pode perceber nesta sequência que trata da chegada e dos primeiros dias do casal no Uruguai: “Sólo al atravesar las transparentes aguas del río Negro desaparecieron casi cuatrocientas cabezas”, recordaba Garibaldi en una de nuestras conversaciones en Caprera. (Sierra, 2003, p.183) “Llegamos a Montevideo con apenas trescientos cueros el 17 de junio de 1841”, precisó Garibaldi en su relato. (Sierra, 2003, p.184) “En esos días”, me contó Garibaldi, “yo recebía la ayuda de mis amigos para poder subsistir.” (Sierra, 2003, p.190 17)18



Depois desta, dirigimo-nos a S. Gabriel e onde se estabeleceu o quartel-general, e se edificaram barracas para o acampamento do exército. Seis anos desta vida de aventuras e perigos não me fatigaram enquanto era só, mas atualmente que tinha uma pequena família, a separação de todos os meus antigos conhecimentos, a ignorância completa em que me achava há tantos anos sobre o estado da minha família, fizeram nascer o desejo de me aproximar de um ponto onde pudesse receber notícias de meu pai e minha mãe, porque se tinha por um momento esquecido essas ternas afeições, elas apareciam de novo. Também não tinha notícias da minha outra mãe, da Itália! Decidi então ir a Montevidéu; ao menos temporariamente. Pedi, pois, licença ao presidente, assim como para levar alguns bois, de que a venda devia servir para me sustentar durante a jornada. XXXVI – Condutor de Bois. Eis me, pois tropeiro, isto é, condutor de bois. Em consequência numa estância chamada o Casal [Curral] das Pedras, com a autorização do ministro da fazenda, consegui reunir em vinte dias e com grande dificuldade novecentos bois, quase todos, selvagens. Maiores dificuldades me esperavam ainda durante o caminho onde encontrei obstáculos quase invencíveis. O maior de todos foi o Rio Negro, onde tive quase perdido todo o meu capital. Da passagem do rio, da minha inexperiência no meu novo mister, e sobretudo da rapina de certos capatazes, mercenários que alugara como condutores, salvei com muito custo quinhentos bois, que visto o mau sustento e o péssimo caminho, foram julgados incapazes de chegar ao seu destino. Resolvi em consequência matá-los, e tirar lhes as peles que vendi, ficando-me livre de toda a despesa, uns trezentos escudos que serviram para fazer face às primeiras necessidades da minha família.

É aqui que devo mencionar um encontro que me deu um dos meus mais caros e melhores amigos. Aproximando-me de S. Gabriel, na retirada que acabávamos de fazer, ouvira falar de um oficial italiano, dotado de grande valor e inteligência, que, exilado como carbonário, se tinha batido em França no dia 5 de junho de 1832, e depois no Porto durante o cerco que ali houve devido à guerra entre os dois irmãos D. Pedro e D. Miguel, vindo depois oferecer-se ao serviço das jovens republicanas da América do Sul. Contavam-se a seu respeito coisas extraordinárias que muitas vezes disse: – Quando encontrar esse homem há de ser meu amigo. Chamava-se Anzani19. Chegando à América, tinha-se apresentado com uma carta de recomendação a dois dos seus compatriotas MM... negociantes em S. Gabriel que fizeram dele o seu factótum. Anzani exercia todos os empregos: caixeiro guarda-livros, homem de confiança; enfim era o bom gênio dessa casa. Como todos os homens fortes e corajosos, Anzani era sossegado e dotado de um excelente gênio.

Pulpería

A casa comercial de que ele se tornara diretor era uma dessas casas como se acham unicamente na América do Sul, isto é, vendendo tudo o que é possível imaginar.

O chefe dos Matos e os Cães Danados

A vila onde residiam os nossos dois compatriotas era, infelizmente, próxima da floresta que servia de refúgio a essas tribos de índios de que já dissemos algumas palavras no capítulo precedente. Um dos chefes destes índios tinha-se tomado o terror desta pequena vila, pois vinha duas vezes por ano, com a sua tribo, roubando quando queria, sem encontrar a menor resistência. Primeiramente veio acompanhado por duzentos ou trezentos homens, depois com cem, depois com cinquenta, segundo ele vira aumentar o terror, estabelecendo o seu poder, e depois sentindo-se o senhor, viera só, e dava as suas ordens que eram obedecidas, como se por detrás de si, tivesse a sua tribo pronta a assassinar aquele que lhe recusasse obedecer. Anzani ouvira falar deste homem e escutara tudo o que se dizia a seu respeito, sem manifestar sua opinião sobre a audácia deste chefe selvagem e sobre o terror que inspirava a sua ferocidade. Este terror era tamanho que quando se ouvia dizer o chefe dos Matos, todas as janelas se fechavam, e todas as portas se trancavam como se na vila andassem alguns cães danados. O índio estava habituado a estes sinais de terror, que lisonjeavam o seu orgulho, escolhia a porta que queria ver aberta, batia abrindo-se logo com a rapidez do relâmpago – e roubava tudo sem encontrar a menor resistência. Havia justamente dois meses que Anzani dirigia a casa de comércio nos seus maiores como menores detalhes, quando se ouviu o grito terrível! – O chefe dos Matos! Como de costume, portas e janelas fecharam-se precipitadamente. Anzani estava só em casa, arranjando as contas da semana, e não julgando que o estrondoso anúncio que acabavam de fazer valesse a pena de se incomodar, ficou sentado à sua mesa, com as janelas e portas abertas. O índio parou espantado diante dessa casa que no meio do terror geral que causava a sua chegada, se conservava indiferente à sua aparição. Entrou e viu encostado ao balcão um homem que sossegadamente fazia as suas contas. Parou diante dele, de braços cruzados e olhando-o com espanto. Anzani levantou a cabeça. Anzani era a política em pessoa.

Que quer meu amigo? Perguntou ele ao índio.

Como! Que quero?! Disse este.

Sem dúvida, disse Anzani, quando se entra em um armazém é que se quer comprar algo. O índio começou a rir.

Pelo que vejo não me conheces? perguntou ele a Anzani.

Como queres que te conheça, se é a primera vez que te vejo!

Sou o chefe dos Matos, replicou o índio, mostrando no seu cinto um arsenal, composto de quatro pistolas e um punhal.

Então que queres?

Beber.

O quê?

Um copo de aguardente.

Não há nada mais fácil; paga primeiro e depois tens a aguardente que quiseres.

O índio começou a rir de novo. Anzani franziu as sobrancelhas.

Em lugar de me responder, tornas de novo a rir. Não acho isto muito político. Previno-te, pois, que se isso suceder outra vez, ponho-te fora da porta. Anzani pronunciara estas palavras com tal firmeza, que outro qualquer homem que não fosse o índio, teria compreendido com quem tinha a tratar. Talvez o selvagem houvesse compreendido, mas não o deu a conhecer.

Já te disse que me desses um copo de aguardente, repetiu ele, batendo com o punho no balcão.

E eu já te disse que o pagasses primeiro, disse Anzani, quando não, não a bebes. O índio deitou um olhar colérico a Anzani, mas o olhar deste encontrou o seu, – o relâmpago havia encontrado o relâmpago. Anzani dizia muitas vezes: – A única força que existe é a moral. Olhai fixa e obstinadamente o homem que vos encarar; se ele baixar os olhos, estais senhor dele, mas se pelo contrário, sois vós que os baixais, estais perdido. O olhar de Anzani tinha um irresistível poder. Foi o índio que foi vencido, e conhecendo a sua inferioridade, e furioso deste poder desconhecido, quis ganhar ânimo bebendo.

Está bem, disse ele, aí tens meia piastra, dá-me de beber.

É obrigação minha servir quem me paga, disse tranquilamente Anzani. E deu ao índio um copo de aguardente. O índio bebeu.

Outro, disse ele. Anzani deu-lhe outro copo. O índio bebeu-o como o primeiro.

Ainda outro, disse ele. Enquanto Anzani teve dinheiro suficiente para se pagar da despesa do índio, não lhe fez nenhuma observação, mas quando o bebedor já não tinha dinheiro para pagar, cessou de encher-lhe o copo.

Então? Perguntou o selvagem. Anzani fez-lhe a sua conta.

Depois? Insistiu o selvagem.

Depois?... Como não tem dinheiro, não bebe mais aguardente, respondeu Anzani. O índio formara bem o seu cálculo. Os cinco ou seis copos de aguardente que havia bebido, tinham-lhe dado a coragem que havia perdido com o olhar de Anzani.

Aguardente, disse ele levando a mão a uma das pistolas, aguardente, ou morres.

Anzani que já previa o final desta cena, estava preparado. Tinha cinco pés e nove polegadas20, e era dotado de uma força e agilidade pasmosa. Apoiou a mão no balcão e saltando para o outro lado, deixou-se cair sobre o índio, agarrando-lhe o punho direito. O selvagem não pôde aguentar o choque e caiu; Anzani não o largou e pôs-lhe o pé no peito. Então agarrando com a mão esquerda a mão direita do índio, tornando-lhe por isso inofensiva a arma, Anzani tirou-lhe do cinto as pistolas e punhal, que espalhou pelo armazém, e arrancando-lhe a pistola da mão, quebrou-lhe o cano na cabeça e na cara, e julgando que o selvagem já se achava bem castigado foi empurrando-o aos pontapés até a porta, deitando-o no meio de um grande lamaçal. O índio levantou-se com muita dificuldade e fugiu, mas em tal estado, que nunca mais tornou a aparecer em S. Gabriel.

Ferrari, na guerra de Portugal.

Anzani havia feito debaixo do nome de Ferrari a guerra de Portugal. Com este nome tinha-se conduzido admiravelmente, ganho a patente de capitão e recebido duas graves feridas; uma, na testa, outra no peito, e tão graves que, no fim de dezesseis anos, morreu por causa delas. A ferida da cabeça era um golpe de sabre que lhe tinha aberto o crânio. A do peito foi uma bala que lhe ficara no pulmão, e de que mais tarde lhe resultou a tísica pulmonar. Quando se lhe falava dos prodígios de coragem que praticara debaixo do nome de Ferrari, sorria-se e dizia que ele e Ferrari eram dois entes diferentes. Infelizmente não podia, enquanto atribuía os seus prodígios de valor a um ente imaginário, trespassar-lhe às duas feridas. Tal era o homem de quem me haviam falado, e a quem eu desejava conhecer e ter por amigo.

Em S. Gabriel soube que fora tratar de alguns negócios, à sessenta milhas21 de distância.

Montei então a cavalo para o procurar. No caminho, na margem de um pequeno rio, encontrei um homem, com o peito nu, lavando uma camisa – vi ser este o homem que procurava. Dirigi-me a ele, estendi-lhe a mão e disse-lhe quem era. Desde esse momento fomos irmãos. Já não estava na casa de comércio, e como eu, havia entrado ao serviço da república do Rio Grande. Era comandante de infantaria da divisão de João Antônio22, um chefe republicano dos mais conhecidos. Como eu, deixava o serviço e dirigia-se ao Salto. Depois de um dia passado juntos, demos os nossos endereços respectivos e combinamos que não empreenderíamos movimento algum importante, sem o participarmos mutuamente. Seja me permitido narrar um fato que dá bem a conhecer a nossa miséria e a nossa fraternidade. Achava-me tão pobre como Anzani, em camisas, enquanto ele tinha mais um par de calças. Dormimos no mesmo quarto, mas Anzani partiu antes de romper o dia e sem se despedir. Quando acordei, encontrei sobre o meu leito o melhor dos seus dois pares de calças. Conhecia apenas Anzani, mas era um desses homens que se apreciam à primeira vista, e tanto que quando entrei ao serviço da república de Montevidéu e fui encarregado de organizar a legião italiana, o meu primeiro cuidado foi escrever-lhe, convidando-o a vir acompanhar-me. Veio, com efeito, e desde esse dia não nos deixamos mais, até que ele tocando na terra de Itália, morreu entre os meus braços.

XXXVII – Professor de Matemática e Corretor de Comércio. Em Montevidéu dirigi-me à casa de um dos meus amigos, chamado Napoleão Castellini. Ao seu excelente coração, sou devedor de muito, para jamais me esquecer, assim como a G. D. Cunes, – amigo de toda a minha vida, – e aos irmãos Antoninho e Giovanni Risso. Gastos os poucos escudos que me produziram as peles de bois, e para não ficar com minha mulher e filho às sopas dos meus amigos, empreendi duas indústrias que, devo confessá-lo, chegavam apenas para satisfazer as minhas necessidades. A primeira era corretor de fazendas. A segunda era a de professor de matemática, na casa do estimável Paulo Semidei. Este modo de vida durou até a minha entrada na legião Oriental. Os negócios do Rio Grande começavam a estabelecer-se e arranjar-se, não tendo eu, pois nada a esperar deste lado. A república oriental – é assim que se chamava a república de Montevidéu – sabendo que me achava livre, não tardou em me oferecer uma ocupação mais em harmonia com os meus meios e com o meu caráter, do que a de professor de matemática e corretor. Ofereceram-me e aceitei o comando da corveta Constituição. A esquadra oriental, achava-se debaixo das ordens do coronel Cosse, e a de Buenos Aires, às ordens do almirante Brown. Muitos encontros e muitos combates tiveram lugar entre as duas esquadras, tendo sempre obtido medíocres resultados. Por este tempo um certo Vidal, de triste memória, foi encarregado do governo geral da república. Um dos primeiros e mais deploráveis atos deste homem foi o de se desfazer da esquadra que, dizia ele, era muito onerosa para o estado. E, com efeito, esta esquadra que custara imensas somas à república, e que sustentada, como era então muito fácil, lhe dava uma grande superioridade sobre a do Prata, foi destruída completamente, vendendo-se os navios por preços vergonhosos. Fui destinado a uma expedição, de que deviam nascer bastantes acontecimentos. Mandaram-me ajudar Corrientes, com o bergantim Pereira, de dezoito canhões, devendo a goleta Procida navegar de reserva comigo. Corrientes fazia então frente à Rosas, e eu devia ajudá-la nas suas operações contra as forças do ditador. Pôde ser que esta expedição tivesse outro fim, mas isso era segredo do governador-geral. Seja permitido, ao que publica estas Memórias, dar aos leitores, sobre o estado da república de Montevidéu em 1841, algumas explicações que o general Garibaldi julgou não dever mencionar nas suas Memórias. Estas explicações são tanto mais exatas, sendo dadas ao que hoje publica-as, em 1849, por um homem que representou um grande papel nos acontecimentos da república Oriental. Falamos do general Pacheco y Obes, um dos nossos melhores amigos. Em pouco cederemos a pena ao general Giuseppe Garibaldi, porque, como se tem visto, o primeiro emancipador da Itália, maneja, como César, a pena como a espada. 23



  1. Paso de Los Toros

Um dos locais candidatos por onde Garibaldi passou no rio Negro, foi o Paso de los Toros, ligação histórica entre o norte e o sul do Uruguai, especialmente para quem conduzia gado e carretas.

Anteriormente, a cidade era um grande estabelecimento rural da família Balsam. Com o passar do tempo, foi ganhando importância porque aquele era o lugar onde a água do Río Negro era mais baixa e era possível atravessar. Daí o nome "Paso"; e era ali que cruzavam os touros criados no norte do Uruguai para ir a Montevidéu até o porto de gado de Cerro, por isso também se chamava “de los Toros”.24



Paso de los Toros, localizado na margem norte do Rio Negro, deve sua origem inicialmente à sua qualidade de passagem obrigatória para atravessar o referido rio. O trânsito de uma margem a outra era feito através de um vau conhecido como Paso General de los Toros (e mais tarde Paso de los Toros ), local onde os baquianos eram conhecidos como touro pela força e coragem em ajudar as carroças e as tropas para cruzar o rio. Após a morte de Antonio Guerrero, seu filho Juan Guerrero vendeu as terras do vau a Ángel Bálsamo em 1802 (que instalou uma mercearia e um abastecimento), que mais tarde herdou sua propriedade de seu filho Eufrasio Bálsamo junto com sua esposa Isabel. Rosas . 25



La historia de Paso de los Toros ha sido plasmada en libros escritos por autores locales como el padre Daniel Franco (Hacia sus Gloriosos Destinos, 1950), Ernesto R. Pérez (Historia de Paso de los Toros, 1960), el Dr. Pedro Armúa (Historia de Paso de los Toros, 1999), Raúl Naranja Vaz (Jalones en la Historia de Paso de los Toros, 2016), entre otros, y ha sido transmitida de generación en generación para la reafirmación de la identidad del pueblo isabelino con narradores orales e historiadores–investigadores como Washington Aizpún, Séptimo Bálsamo y María Elena Báez. (...)

1811 - 1818 Se menciona en documentos históricos la existencia de un “paso” en la zona centro de nuestra nación que permitía el pasaje de norte a sur del ganado y de carretas que circulaban en la Banda Oriental en esos años. Por aquel entonces ya los indios y gauchos que tenían la valentía de cruzar este paso en el río Negro eran denominados “hombres toros”, término que aún persiste en el imaginario colectivo y que se atribuye a los isabelinos que siempre han desafiado y enfrentado las dificultades sociales y naturales que se presentan en la vida cotidiana de la localidad. Valores como la valentía, la solidaridad y el amor por el terruño fueron y son pilares fundamentales en esta sociedad en pleno siglo XXI. De esa época se reconoce la existencia de la primera pulpería (del gallego Gómez), un rancho de paja y barro que se ubicó en la zona alta junto al río, donde hoy se encuentra el Parque Batlle y Parador Municipal. Más adelante comenzaron a levantarse los primeros ranchos de la zona, y así se consolidó este lugar de tránsito en el centro del país que no contó con una fecha exacta de fundación y que fue creciendo con el transcurso de los años.

1876. La conformación como pueblo se fue concretando lentamente y estuvo vinculada a la figura de Don Venancio Bálsamo, considerado fundador de la localidad. La familia Bálsamo llegó a la zona a principios del siglo XIX, pero no fue hasta el año 1876 cuando Don Venancio Bálsamo, en nombre de la sucesión de sus padres ya fallecidos (Don Eufrasio Bálsamo y Doña Isabel Rosas de Bálsamo), donó los terrenos de su propiedad para que se fraccionaran y se consolidara la villa, en ese entonces, denominada Santa Isabel, como homenaje a su madre. 26



PASSAGEM DOS TOUROS. Processo de fundação elisabetano. Paso de los Toros não surge de um ato específico de fundação. A família Bálsamo é quem tem impacto direto neste processo, desde o patriarca Eufracio Indalecio, que adquiriu imóveis na região em 1834 e 1865, seu filho Venâncio Francisco, que diagramava e fundava a cidade e por último os netos, que gerou as extensões com novos bairros. Podemos definir como facto inicial a elaboração de duas plantas de amanzanamiento levantadas em 1877 pelo agrimensor Manuel Serby. O primeiro plano de amanzanamiento, datado de 12 de março de 1877, foi intitulado “Plano elaborado por ordem de Dom Venancio F. Balsam para a sede do Povo de Santa Isabel ”. Foi executado por este agrimensor, de Montevidéu, a pedido de Venâncio em nome de seus irmãos e sobrinhos Vargas Bálsamo. É a primeira concretizada de acordo com o “Regulamento de Arranjo de Cidades e Colónias”, aprovado no mesmo ano pelo Governo Nacional. Nesse processo, a família Bálsamo fez importantes doações para consolidar a estrutura do município. Quando confiaram ao agrimensor Manuel Serby o traçado das plantas, incluiu-se a doação de quatro quarteirões da baixa para praças públicas e instituições do Estado. Como o plano original não contemplava a passagem da ferrovia, dada a iminência desse avanço, os Bálsamos e o Vargas Bálsamo doaram novos blocos à empresa inglesa para a construção de seus trilhos e anexos, incluindo um quadrado de 60 metros denominado “ Del Ferrocarril ”, Com a condição de que a estação fosse construída no quarteirão foram doados. Por sua vez, em 1898, Venâncio Bálsamo doou um terreno para a construção da igreja e outro para a implantação do cemitério local. "Santa Isabel". A família propôs esta denominação ao traçado projeto de cidade, em homenagem à sua mãe e avó Isabel Rosas de Bálsamo, esposa de Eufrasio. A proposta ganhou apoio legislativo em 1903. "Paso de los Toros". Porém, em 1929, os próprios Pasotorenses, por iniciativa de seus vereadores e por meio dos legisladores do departamento, conseguiram a mudança para o nome original.27



OTROS NUCLEOS URBANOS. PASO DE LOS TOROS La segunda ciudad del departamento fue fundada por don Venancio Bálsamo alrededor del año 1876. Su primitivo nombre fue Santa Isabel. como homenaje a la madre del fundador. Existen distintas versiones con respecto al nombre de Paso de los Toros. Una de las más difundidas afirma que tomó el nombre de un paso del Rio Negro por donde cruzaba el ganado que se conducía para el abasto de Montevideo. 150 metros más abajo del lugar donde luego se construyó el puente. 28


1 Licenciado em História(UFSM). Mestre em História do Brasil(PUCRS). Historiador.

3 HISTÓRIA. Um herói para todas as estações. PAULO SÉRGIO PINHEIRO. Paulo Sérgio Pinheiro é professor titular de ciência política e coordenador do Núcleo de Estudos da Violência. É autor, entre outros, de "Estratégias da Ilusão - A Revolução Mundial e o Brasil 1922-1935" (Companhia das Letras). https://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs040104.htm .

4 IMPERIAL LINES, INDIGENOUS LANDS: TRANSFORMING TERRITORIALITIES OF THE RÍO DE LA PLATA, 1680-1805 Jeffrey Alan Erbig Jr. A dissertation submitted to the faculty of the University of North Carolina at Chapel Hill in partial fulfillment of the requirements for the degree of Doctor of Philosophy in the Department of History. Chapel Hill 2015 Approved by: Kathryn Burns John Chasteen Cynthia Radding John French John Pickles

ii © 2015 Jeffrey Alan Erbig Jr. ALL RIGHTS RESERVED. https://web.kamihq.com/web/viewer.html?state=%7B%22ids%22%3A%5B%2217E4Jjpg3yf8hTDZMWe1X4IuvtEWNisjd%22%5D%2C%22action%22%3A%22open%22%2C%22userId%22%3A%22100767461285615959502%22%2C%22resourceKeys%22%3A%7B%7D%7D&kami_user_id=28229

5 Alfredo c. Castellanos. nomenclatura de montevideo. Servicio de Relaciones Públicas y Comunicaciones. plazas © 2000 Intendencia Municipal de Montevideo

13 (63)- ANITA GARIBALDI A MULHER DO GENERAL - ANITA GARIBALDI

14 (64)- ANITA GARIBALDI - A MULHER DO GENERAL - A. GARIBALDI - pg 96 . Martins Fontes: 1989.

15 Anita Garibaldi A Guerreira das REPÚBLICAs– Adílcio Cadorin Biblioteca Virtual da Página do Gaúcho - www.paginadogaucho.com.br . página 1/1 .

17 Anita Garibaldi. guerrillera en América del Sur, heroína de la unidad italiana

Por Julio A. Sierra · Buenos Aires: Editorial Sudamericana2003

18 beiro, Fernanda Aparecida. Anita Garibaldi : coberta por histórias / Fernanda Aparecida Ribeiro. – São Paulo : Cultura Acadêmica, 2011. https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/109188/ISBN9788579832123.pdf?sequence=1

19SÃO GABRIEL NA GUERRA DOS FARRAPOS (1). (Pesquisa: Nilo Dias). https://n1noticia.wordpress.com/2017/04/29/sao-gabriel-na-guerra-dos-farrapos-1/ . “Francesco Anzani (Alzate, 11 de novembro de 1809 - Gênova, 5 de julho de 1848) foi um patriota e militar italiano. De simpatias liberais, ele fugiu, o ano não é bem conhecido, para ir lutar na guerra de independência grega. De volta a casa, ele estudou matemática na Universidade de Pavia antes de ir para o exílio em Paris, onde participou dos motins de 1830-31. Lá ele conheceu Giuseppe Mazzini e participou do movimento republicano de 5 a 6 de junho de 1832]. Depois foi a Portugal lutar entre os Caçadores do Porto do Ligúria Gaetano Borso di Carminati, defendendo a causa liberal de Isabella Maria contra Dom Miguel. Então ele foi para a Espanha alistar-se, com a patente de capitão, na "Legião Estrangeira de Cristãos" contra o pretendente Dom Carlos, sendo ferido pela segunda vez. Repatriado em 1838, foi preso ao desembarcar em Gênova e entregue à polícia austríaca, que o prendeu em Milão. Libertado, expatriou-se, emigrando para a América do Sul, na província do Rio Grande do Sul. Lá conheceu Giuseppe Garibaldi, com quem fez forte amizade e, quando se formou a Legião Italiana no Uruguai, confiou o comando a Anzani. Ele contribuiu para a vitória na batalha de San Antonio construindo o forte de Salto e defendendo-o desde os Blancos até a chegada de Garibaldi [2].

A experiência comum foi lembrada em uma carta [3], duplamente assinada por Garibaldi e Anzani, dirigida ao núncio apostólico na América do Sul, monsenhor Bedini [4] :

«Nós (...), sempre animados por aquele mesmo espírito que nos fez enfrentar o exílio, pegamos em armas em defesa de Montevidéu, porque acreditávamos ser justa a sua causa; juntaram-se a nós algumas centenas de nossos compatriotas, que vieram aqui procurando dias menos agitados do que em sua terra natal; durante os cinco anos desde que o cerco apertou essas paredes, cada um deles teve que testar seu valor várias vezes; e, graças à Providência e àquele espírito ancestral que ainda inflama o sangue italiano, em vários momentos nossa Legião pôde ser notada; e, se é permitido dizê-lo sem vaidade, também foi visto como recompensado com honras, nem mesmo alcançadas por qualquer outro corpo nesta guerra".

(Giuseppe Garibaldi e Francesco Anzani)

Gravemente doente, partiu para a Itália com Garibaldi e os fiéis da Legião em 15 de abril de 1848, por ocasião da anistia concedida por Pio IX. Em Nice, ele foi inicialmente assistido pela mãe do Herói de Dois Mundos; transportado para Gênova, foi assistido por seu irmão Giuseppe, seu amigo Garibaldi e Giacomo Medici. Finalmente, em 5 de julho, ele morreu. https://it.wikipedia.org/wiki/Francesco_Anzani .



20Altura: 175,26 centímetros.

21Distância: 96,560 64 km. Pela distância, parecia ser onde estava localizada a antiga povoação de Dom Pedrito. “Pedro Ansuateguy, ou Don Pedro de Ansoategui, deu início a uma povoação na Campanha Gaúcha por volta da década de 1770, a qual daria origem ao município gaúcho de Dom Pedrito. Era um fidalgo espanhol, cuja família havia fundado a casa senhorial em Biscaia, na antiga paróquia de Sán Andrés de Echeverría, no País Basco, Espanha, no século XVI. Pedro Ansuategui era descendente do nobre Basco Domingo de Ansoategui. Era magro e alto, fazendo lembrar o fictício "Cavaleiro da Triste Figura" (Don Quixote). Por volta das últimas décadas do século XVIII teria desertado das tropas espanholas da região do Prata, possivelmente da Banda Oriental, e, com uma dúzia de renegados, construiu ranchos na margem esquerda nas margens do Rio Santa Maria. Ali, ele e os companheiros se dedicaram ao contrabando nos limites entre os domínios portugueses e espanhóis. A povoação que ali cresceu, ainda nos domínios de Bagé, recebeu o nome de Dom Pedrito, apelido de Ansuategui. Essa denominação veio depois que esse "gauche" (vagabundo do campo) sumira sem deixar rastros. Em 1872 Dom Pedrito se emancipou, separando-se de Bagé. Por motivos de viés moralista, em função das atividades do dito fundador da cidade, somente por 1825 o nome de Dom Pedrito passou a ser aceite como associado ao local. Foram, então, criadas estórias fantasiosas, visando reabilitar o aventureiro fundador da cidade. Falava-se de um certo Dom Pedrito, heróico fidalgo espanhol, enamorado por uma certa "Carmencita". Houve ainda tentativas infrutíferas para mudar o nome da localidade para Ponche Verde e até Guanabara”.[A Cidade de Dom Pedrito - Autor: José Antônio Vargas Dias Lopes - Livraria do Globo - Porto Alegre RS - 1972].https://pt.wikipedia.org/wiki/Pedro_Ansuateguy .


22“ 11. “À MARGEM DA CONQUISTA DE RIO GRANDE. Mas, estes episódios gloriosos para nossas forças em parte foram possíveis graças a um ausente do campo de batalha: o general João Antônio da Silveira. Quero contar os feitos deste chefe lutando sozinho ao norte enquanto nós corríamos para atacar Pelotas e de como seu trabalho retardou o auxílio imperial aos que estavam por nós sendo derrotados nos dias seguintes. O general João Antônio da Silveira recebera a missão de deter Francisco Pedro. Enquanto os republicanos ao sul demandavam Pelotas, João Antônio rumou para o norte, ao encontro do chefe imperial, dividindo sua já reduzida força em piquetes espalhados por uma grande frente, destinados a impedir a passagem de mensageiros ou espiões, formando uma tênue linha de avanço. O Moringue, com rapidez característica, já atravessara o rio Piratini e aproximava-se de um dos braços do arroio Candiotinha, seguindo em direção Oeste, enquanto os farrapos esgueiravam-se mais ao sul, em direção leste. Entre ambos, rompendo qualquer possibilidade da penetração dos bombeiros imperiais, a Unha de cavalaria de João Antônio, que a oito de abril mantém contato com as sentinelas avançadas imperiais, descendo em diagonal à Unha republicana, João Antônio reúne seus homens e atravessa novamente o Candiotinha, resolvendo dar o primeiro combate na disputa do Passo Real, o qual é -mantido por algumas horas, enquanto o grosso da tropa de Francisco Pedro se aproxima e João Antônio retira-se, rumo norte, em direção à Serra do Seival, após novamente lutar pela passagem do rio Candiota. Por todo o dia nove João Antônio é perseguido por Francisco Pedro, que se posiciona ao sul para impedir o retorno dos republicanos para a fronteira, aguardando colocá-los próximos às forças de Caxias convergindo para os campos de Bagé, enquanto enviava notícias ao chefe da inexistência na região de outra tropa que não aquela perseguida, que avaliava em quatrocentos homens, face à grande mobilidade dada às colunas por Marcelino do Carmo e Tomaz Pereira, aproveitando a cavalhada disponível. João Antônio ruma em direção ao arroio do Tigre, travando novo combate parcial em Olhos D'Água com a vanguarda dos perseguidores, enquanto Tomaz Pereira, fazendo um amplo semicírculo, ataca a remonta imperial mais ao sul. O objetivo diversionista estava sendo amplamente conseguido, quando, no dia dez, diminui a pressão do Moringue: foi descoberta a manobra e captura-se um estafeta imperial levando correspondência a Caxias comunicando o ataque a Pelotas, informando Francisco Pedro que para lá rumava. Aferram-se então os republicanos em atacar a retaguarda imperial ou os piquetes isolados das alas, dificultando a progressão. Novos informes dão conta da derrota de Rio Grande e Francisco Pedro retorna a Piratini, onde acampa aguardando a chegada de Caxias. João Antônio, cumprida a missão, dirige-se para Pelotas sem ser molestado. As perdas foram amplamente recompensadas: os duzentos farroupilhas tinham retirado do palco das ações oitocentos homens comandados pelo notável chefe imperial, impedindo assim qualquer auxílio aos defensores de Pelotas e Rio Grande. Caxias, ao tomar conhecimento das derrotas, manda Bento Manuel apressar-se. Francisco Pedro aguarda sua chegada à Piratini para organizar novo plano de ação, reorganizando sua divisão, grandemente desfalcadas com os sucessos daqueles meses. Enquanto o chefe imperial vê chegar a seu acampamento as tropas disponíveis, os navios de guerra do Império dirigem-se a São Lourenço, na lagoa dos Patos, ao norte de Pelotas, para aguardar ordens. Do lado republicano, novo tratado com os ingleses permite a estes colaborarem na defesa dos portos livres de São José do Norte e Rio Grande. Um navio de abastecimento desembarca em São José e Rio Grande copioso material de guerra, inclusive três baterias de artilharia. O coronel Mariano de Matos, comandante desta arma, instala as peças em fogo cruzado na entrada da barra, onde um desembarque seria impossível, mandando construir quartéis para os artilheiros. Da mesma forma a entrada do rio Pelotas é artilhada e alguns barcos são afundados para servirem de pontões onde são amarradas correntes logo abaixo da linha de água. O plano republicano era de reforçar suas defesas fortificando a entrada da lagoa, abandonando Pelotas e aguardando a movimentação de Caxias, obrigado a atacar. Garibaldi trouxera consigo Francisco Anzani, oficial de infantaria que já lutara com os farrapos anteriormente, tendo participado ativa-mente das lutas italianas e ibéricas. Com ele veio dezenas de outros voluntários de origem italiana, francesa e inglesa residentes em Montevidéu e dispostos à aventura na nova República. Desta forma foi possível, com o aproveitamento dos negros escravos das charqueadas, formar dois corpos de caçadores com quatro companhias cada um, perfazendo cerca de quatrocentos homens além de trinta oficiais entre rio-grandenses e voluntários europeus, todos sob o comando geral do agora coronel Francisco Anzani e encarregado o primeiro corpo de auxiliar na defesa de São José do Norte e o segundo na defesa de Rio Grande”. O país dos Gaúchos. Ivar Hartmann. Revisão: Paulo Bentancur. Editor gráfico e capa; Luiz Carlos Fetter. Impressão: Pallotti - Santa Maria — RS. © Ivar Hartmann. Todos os direitos desta edição estão reservados à Tchê! Editora Ltda. http://www.amprs.org.br/arquivos/comunicao_noticia/O_pais_dos_gauchos_31294.doc



23 Memórias de Garibaldi. Giuseppe Garibaldi Alexandre Dumas Título Original: Mémoires de Garibaldi (1860) Ed. Barbudânia.

25 Administração Postal Nacional. “100 Anos de Santa Isabel del Paso de Los Toros”. Recuperado em 23 de novembro de 2012. https://es.wikipedia.org/wiki/Paso_de_los_Toros .

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